quarta-feira, novembro 30, 2005

Do trabalho final de Sandra sobrou este texto meio perfil meio crônica meio reportagem. É preciso explicar o por quê disto pra que ninguém se assuste pensando que, ao invés de uma matéria, escrevi um conto, e que ao invés de jornalismo estou brincando de literatura. Meu trabalho na construção desse texto foi essencialmente jornalístico, de checar as fontes e ouvir as partes; contudo, a forma como construi este relato é que não foi muito convencional. Mesmo assim, não inventei nada novo, apenas tentei deliberadamente me aproximar daquilo que tem sido chamado Novo Jornalismo ou Jornalismo Literário; que nada mais é que manter o relato factual, contudo, lançando mão de elementos que são mais comuns à ficção.




SALTA-DOR
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As histórias que eu ouvi foram muitas; havia divergência entre o relato dos ascensoristas do prédio. Zenaldo me contava que talvez ele não andasse mais, havia ficado em cadeira de rodas e com seqüelas na cabeça, algum problema mental. Franklin pedia que se eu o encontrasse, dissesse a ele para não repetir a dose. Eu pendia para a versão de ‘Seu’ Adilson, que trabalhava no prédio desde a sua construção, por volta de 1967/68.

‘Seu’ Adilson era homem já de cabelos brancos e, embora falasse pouco, me contou uma história que era totalmente outra. Dizia ter ouvido falar do paradeiro daquele homem, mas que não sabia seu nome nem onde morava, exceto que talvez estivesse trabalhando em tal lugar ali por perto mesmo, e que realmente só o porteiro da noite saberia informar melhor.

Fui ao tal lugar. A cicatriz de quem pulou de um prédio é difícil de esconder; e ele a trazia bem gravada no canto direito da testa e no olhar nervoso e desconfiado. Sem maiores dificuldades, eu havia encontrado quem procurara.

A conversa dos ascensoristas em torno daquele homem que pulou do 5º andar do Edifício Lucas, centro de Campina Grande, e não morreu era puro folclore. Fazia um ano que Marcos trabalhava ali, um estabelecimento comercial do município na forma de feira livre diária, e não só caminhava normalmente como era o segurança do local.

De jaqueta cinza, cacetete na mão, Marcos não sabia se expressar muito bem nem conseguia me explicar direito o por quê de sua atitude. Enumerou razões sem conectá-las umas às outras, disse que a perda do emprego, a falta de perspectiva, a gravidez da mulher, as drogas que usava, e que talvez juntando tudo se explicasse por que ele tentou a morte, há cerca de um ano e meio.

Escolhera o Lucas pela facilidade de transitar e alcançar uma janela; a laje do chamado andar vazado, antes salão de festas, é o primeiro piso que se alcança de qualquer dos treze andares que se pule. Marcos sabia das outras duas pessoas que haviam pulado de lá para a morte este ano, uma deles no início deste mês inclusive, e, estalando o dedo, falava que muitos casos ocorreram antes do seu.

Essas histórias eu tinha ouvido com detalhes, não fazia meia hora, da boca das ditas testemunhas oculares, os ascensoristas do Lucas. Contaram-me de um que subiu as escadas em disparada ao último andar, totalmente atordoado, e, já no parapeito, ameaçando levar consigo quem o detivesse. Contaram de uma mulher que, noutra época, fez igual ameaça mas acabou sendo impedida tanto de pular quanto de levar alguém consigo. Contaram de como era difícil controlar quem subia e para onde ia, e de como julgavam absolutamente impossível dissuadir um suicida.

Enquanto relembrava essas histórias e, num gesto autômato, anotava no bloco de notas as frases esparsas que Marcos proferia, passava em minha mente soluções malucas para resolver o problema do condomínio, como uma cama elástica em cima do andar vazado, e outros disparates afins. Logo percebi que o problema não era do condomínio. Assim como o suicídio por enforcamento não é problema das cordas. Aliás, pelo que disse a síndica, e confirmaram os porteiros, nunca nenhum dos que se atiraram de lá morava no prédio.

Com a mente de volta à feira, encostado numa banca de verduras vazia, era com pesar que eu ouvia a triste história de Marcos, de como sua mulher o abandonara, de como perdera seu emprego de policial, de como se envolvera com drogas, de como foi declinando e declinando, até cair, no sentido mais literal possível; e de como sobrevivera à queda, sem saber ainda a quem atribuir o milagre. Falou-me que estava lendo a Bíblia, e aproveitei pra conversar sobre uma queda muito maior que a dele: a de Adão. Não sei se me deu ouvidos.

Era extremamente admirável ver o esforço de um ser humano por reconstruir a existência que tentou expurgar no piso de uma laje. Quando os olhos marejaram, Marcos despistou comentando um filme que assistiu no dia anterior em que “um cara pulou de um prédio.” Eu não vi o filme, respondi. “O viado morreu na hora,” disse rindo, talvez tentando, mais do que esconder o choro, encontrar consolo em uma história pior que a sua, sem importar se fictícia.

terça-feira, novembro 08, 2005

O Pós-modernismo Nu

O que segue é a tradução parcial da resenha feita por Richard Dawkins ao livro de Alan Sokal (foto) e Jean Bricmont, Imposturas Intelectuais: O abuso da ciência pelos intelectuais pós-modernos. O texto, de 9 de Julho de 1998, foi publicado na revista Nature. Embora já tivesse a indicação de Olavo quanto ao "experimento Sokal", só fui mexer nesse assunto por conta do trabalho de Teoria da Comunicação sobre o Pensamento Contemporâneo Francês; agora preciso do livro. Sokal e Bricmont dinamitaram figuras como Jacques Lacan, Julia Kristeva, Paul Virilio, Jean-François Lytoard, Gilles Deleuze, Luce Irigaray, Bruno Latour, e Jean Baudrillard. Para mais detalhes veja a resenha. Falando da tradução, embora Dawkins escreva muito bem, não tive paciência de fazer algo mais caprichado. O que segue é uma tradução livre e sem revisão do texto:


Suponha que você seja um impostor intelectual que não tenha nada a dizer, mas com fortes ambições de sucesso na vida acadêmica, que deseje colecionar um círculo social de discípulos reverentes e ter os estudantes ao redor do mundo sublinhando respeitosamente suas páginas com um daqueles marcadores amarelos. Que tipo de estilo literário você cultivaria? Não um lúcido, seguramente, pois a clareza exporia sua falta de conteúdo. Provavelmente você irá produzir algo como o que segue:

Podemos ver claramente que há uma correspondência bi-unívoca entre o significado linear das ligações ou arquiescritos, dependendo do autor, e essa multi-referenciação, essa máquina de catálise multidimensional. A simetria da escala, a transversatilidade, o caráter fático não-discursivo de sua expansão: todas estas dimensões removem de nós a lógica do cerne da exclusão e nos reafirmam na dimensão do binarismo ontológico que criticamos anteriormente.

Esta é uma citação do pscinalatista Felix Guattari, um dos muitos ‘intelectuais’ pós-modernos franceses apresentados por Alan Sokal e Jean Bricmont em seu esplêndido livro Imposturas Intelectuais, originalmente publicado em francês e agora circulando em uma edição inglesa totalmente reescrita e revisada. Guattari entra indefinidamente neste rumo e oferece, na opinião de Sokal e Bricmont, “a mais brilhante mistura do jargão científico, pseudocientífico e filosófico que jamais encontramos”. O colaborador íntimo de Guattari, o novato Gilles Deleuze, tem um talento similar para escrever:

Em primeiro lugar, a singularidade de eventos corresponde à série heterogênea que é organizada em um sistema que nem é estável nem instável, mas que chega a ser ‘meta-estável’, dotado com uma energia potencial em que são distribuídas as diferenças entre série... Em segundo lugar, as singularidades possuem um processo de auto-unificação, continuamente móvel e descolam a extensão que um elemento paradoxal atravessa a série e os faz ressonar, enquanto envolvendo os pontos singulares correspondentes em um único ponto aleatório e todas as emissões, todos os lançamentos de dados, em um único elenco.

Isto pede que se preste atenção à caracterização inicial de Peter Medawar quanto ao estilo de um certo tipo de intelectual francês (note, de passagem, o contraste oferecido pela própria clareza e elegância da prosa de Medawar):

O estilo se tornou um objeto de primeira importância, e o estilo é justamente isto! Eu vejo alguns se empinando, se vangloriando de qualidades, cheios de auto-importância; realmente elevados, mas à maneira de um bailarino, parando de vez em quando em atitudes estudadas, como se esperassem uma explosão de aplausos. Isto teve uma influência deplorável na qualidade do pensamento moderno...

Retornando para atacar os mesmos objetivos de outro ângulo, Medawar diz:

Eu posso citar evidências como o início do sussurro de uma sirene contra as virtudes da clareza. Alguém que escreveu sobre estruturalismo no Times Literary Supplement sugeriu que aqueles pensamentos que são confusos e tortuosos em razão de sua profundidade são mais propriamente expressos em uma prosa que seja propositalmente obscura. Isto é que é uma idéia propositalmente tola! Me faz lembrar de um diretor de invasão aérea que em tempo de guerra em Orforx, quando o brilho do luar parecia vencer o espírito da escuridão, nos aconselhou a usarmos óculos escuros. Porém, ele estava querendo ser engraçado.

Isto é da conferência de Medawar de 1968 sobre “Ciência e Literatura” (Oxford University Press, 1982). Nesse tempo Medawar, sussurrou a sirene de sua voz.

Deleuze e Guattari escreveram e colaboraram em livros descritos pelo celebrado Michel Foucault como “entre os maiores dos maiores... Talvez, algum dia, este século será chamado Deleuziano.” Sokal e Bricmont, entretanto, pensam de outro modo: “Esses textos contêm uma infinidade de sentenças ininteligíveis – às vezes banais, às vezes errôneas – e não vamos falar do que está nas notas de rodapé. O resto, deixemos que o leitor julgue por si mesmo.”

Mas não é fácil para o leitor. Sem dúvida existem pensamentos tão profundos que muitos de nós não entenderia a linguagem na qual eles são expressos. E sem dúvida há também há uma linguagem projetada para ser ininteligível a fim de esconder a ausência de raciocínio honesto. Mas como saberemos a diferença? O que realmente leva um especialista a detectar se de fato o rei está vestido? Particularmente, como saberemos se os filósofos franceses da moda, cujos discípulos têm assumido grandes seções da vida acadêmica americana, são genuinamente profundos ou apenas possuem a mesma retórica de um skatista ou charlatão?

Sokal e Bricmont são professores de física, respectivamente, da Universidade de Nova Iorque e da Universidade de Louvain na Bélgica. Eles limitaram suas criticam àqueles livros que se aventuraram em invocar conceitos da física e da matemática. Aqui eles sabem do que estão falando, e seu veredicto é inequívoco. Sobre Jacques Lacan, por exemplo, cujo nome é venerado por muitos nos departamentos de ciências humanas nas universidades americanas e britânicas, não existe dúvida de que ele simula compreender profundamente a matemática:

...embora Lacan use várias palavras chaves da teoria matemática de densidade, ele as confunde arbitrariamente e não tem a menor consideração pelos seus significados. Sua ‘definição’ de densidade não só é falsa: é estúpida.

Eles citam adiante uma parte notável da argumentação de Lacan

Assim, calculando aquele significado de acordo com o método algébrico usado aqui, isto é:

Você não precisa ser um matemático para ver que isto é ridículo. Recordo o Aldous Huxley que provou a existência de Deus dividindo zero em um número, derivando disto o infinito. Em uma parte adiante da argumentação isto se mostra completamente típico do gênero, Lacan irá concluir que o órgão erétil

...é equivalente a raiz quadrada de -1 do significado produzido acima, da junção que restabelece pelo coeficiente de sua declaração a falta de significado (-1).

Não precisamos das perícias matemáticas de Sokal e Bricmont para nos assegurar de que o autor desta obra de arte é uma fraude. Será que ele é genuíno quando fala de temas não-científicos? Mas um filósofo que é pego comparando o órgão erétil com a raiz quadrada de -1 um tem, na minha opinião, suas credenciais desacreditadas quando fala de coisas das quais eu não sei.

A ‘filósofa’ feminista Luce Irigaray é outro exemplo a que Sokal e Bricmont dedicam um capítulo inteiro. Em uma passagem rememorativa de uma notória descrição feminina dos Principia de Newton (um “manual de estupro”), Irigary discute que E=mc2 é uma “equação sexual”. Por que? Porque “privilegia a velocidade da luz sobre todas as outras velocidades que são vitais e necessárias a nós.” Num raciocínio desta mesma espécie está a tese de Irigary das mecânicas fluídas. Os fluídos, você vê, foram incorretamente negligenciados. “Físicos masculinos” privilegiaram coisas rígidas, sólidas. Sua expositora americano, Katherine Hayles, cometeu o mesmo erro de re-expressar os pensamentos de Irigary por meio de uma linguagem (comparativamente) clara. Por sua vez, se temos o olhar razoavelmente desobstruído sob o rei, vemos que ele está nu:

O privilégio do sólido sob os fluídos mecânicos, e a real inabilidade da ciência para lidar com o turbulento fluxo ao nada, ela atribuiu à associação de fluidez com feminilidade. Enquanto os homens têm órgãos sexuais que se dilatam e enrijecem, as mulheres têm aberturas que escoam sangue menstrual e fluídos vaginais... Sob esta perspectiva não é se espantar que a ciência não tenha alcançado um modelo que propiciasse a turbulência. O problema do fluxo turbulento não pode ser resolvido porque as concepções de fluídos (e de mulheres) necessariamente foram formuladas para permanecer inarticuladas.

Você não precisa ser um físico para farejar o cheiro absurdo deste tipo de argumento (o tom disto se tornou muito familiar), mas Sokal e Bricmont nos ajudam a entender a real razão por que o fluxo turbulento é um problema difícil: as equações Navier-Stokes são difíceis de resolver
[1].

De maneira similar, Sokal e Bricmont expõem a confusão de Bruno Latou da relatividade com o relativismo, na ciência do pós-moderno Jean-François Lyotard, e o abuso do difundido e o previsível na teoria de Gödel, e da teoria do quantium e do caos. O renomado Jean Braudillard é o único a achar na teoria do caos um uso útil para enganar os leitores. Uma vez mais Sokal e Bricmont nos ajudam a analisar os truques deste jogo. A oração seguinte, “embora construída sob terminologia científica, não faz sentido do ponto de vista” científico:

Talvez a própria história deva ser considerada como uma formação caótica na qual a aceleração acaba com a linearidade e a turbulência criada pela aceleração que inclina a história definitivamente para o seu fim, da mesma maneira que tal turbulência distancia seus efeitos de suas causas.

Eu não irei citar nada mais, pois, como Sokal e Bricmont dizem, o texto de Baudrillard “continua em aumentos graduais de estupidez”. Eles novamente chamam a atenção para “a alta densidade de terminologia científica e pseudo-científica – inseridas em sentenças que são, até onde podemos perceber, destituídas de significado”. Seu resumo sobre Baudrillard poderia representar quaisquer dos autores criticados aqui, bem como abranger outras celebridades americanas:

Em resumo, se encontra nos trabalhos de Baudrillard uma profusão de termos científicos, usados sem nem saber o que eles significam e, além de tudo, num contexto onde são visivelmente irrelevantes. Ou alguém os interpreta como metáforas, ou será difícil ver que função eles podem desempenhar, exceto dar uma aparência de profundidade muito comumente observadas na sociologia ou história. Além do que, a terminologia científica está misturada com um vocabulário não-científico que é usado do mesmo modo sujo. Depois disto alguém pode querer saber o que se aproveita do pensamento de Baudrillard depois que se tira o floreado verbal que o cobre.


[1] “Soluções de equações Navier-Stokes só foram obtidas em um número limitado de casos especiais. As equações são derivadas sob certas suposições simplificadas relativas ao tensor do fluido; em uma dimensão eles representam a suposição chamada Lei Newtoniana de fricção”. Extraído do Dictionary of Technical Terms for Aerospace Use.

sábado, novembro 05, 2005

Possível Plebiscito

Alguns dias depois do referendo de 23 de outubro, Peter Hof escreveu: "Espero que essa vitória tenha sido um divisor de águas entre o que o povo quer e os dirigentes teimam em fazer. Uma linha foi traçada no chão, daqui vocês não vão passar, pensem bem antes de se reunirem em conchavos em Brasília para planejar novas investidas contra nossos direitos."

Contra o estrondoso "não" das urnas, tentou-se a desculpa de que o povo foi ludibriado por um marketing muito bem feito e que as pessoas não votaram contra a proibição do comércio de armas de fogo e munição porque perceberam a burrice que isso seria, mas porque estavam indignadas contra o governo Lula. Bem, quem perde dá suas desculpas.

Nem bem deixamos o debate sobre a comercialização de armas de fogo e em Brasília já está se falando (pela não sei quanta vez) de uma questão ainda mais absurda. Não estou me referindo ao protesto na visita do presidente americano ao Brasil; embora me surpreenda como tanta gente se organizou e saiu rapidamente às ruas para protestar contra o que é decidido na América do Norte enquanto o máximo que conseguem fazer pela escancarada safadeza local, em momento raro de honestidade, é dizerem-se arrependidas quanto a ter votado em Lula.

A questão absurda a qual me refiro aqui é a da liberação do aborto. Um projeto propondo tal coisa, não sei exatamente em que termos, foi apresentado à Câmara dos Deputados pela ministra Nilcéa Freire, e o presidente da Comissão de Seguridade, deputado Benedito Dias (PP do Amapá), prometeu que não ficará engavetado, mas, "vai botar para votar."

E, gostaram, parece que vão botar o povo pra votar de novo. A deputada Jandira Feghali (PC do B -RJ), que há oito anos milita em favor da legalização do aborto, e o deputado Osmânio Pereira (PTB-MG), que é contra o aborto, concordam que seja feito um plebiscito com a seguinte pergunta: “A interrupção da gravidez até a 12a semana de gestação deve ser permitida?”

Há mais informações sobre isto no site da casa da mãe, digo, a "casa de todos os brasileiros", a câmara dos deputados: <
http://www2.camara.gov.br/>. Seria bom se pudéssemos acompanhar essa questão com mais atenção. Talvez um plebiscito com dinheiro público perguntando sobre se queremos ou não o direito de matar nossas criancinhas seja até melhor do que deixar que os deputados decidam a questão por si mesmos.

Entre aqueles que tratam o tema com intransigência no sentido de impedir a legalização do aborto está o conhecido Doutor Enéas. Não estou pedindo votos para o Prona. Das propostas de Enéas, enquanto candidato à presidência da república, eu só lembrava da bomba atômica. Mas quem, como eu, julgou o Dr. Enéas incapaz de dizer algo sóbrio e coerente deve ler este seu discurso abaixo. Pretendo voltar a este assunto posteriormente.


O SR. ENÉAS (PRONA-SP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, com a permissão de V.Exa., vou usar os 5 minutos a que tenho direito. Sr. Presidente, que a questão é controversa, eu sei. Mas aquilo para que é preciso existir um alerta é para um processo desumano que vem crescendo em todo o planeta. Ninguém é dono da vida de ninguém. Com todo o respeito às senhoras, tenho três filhas e estou falando como médico. Ninguém é dono da vida de ninguém. O concepto, desde o momento da fecundação, da beleza que representa o ato genésico, é uma vida.


Depois que houve a meiose, a partir daquele instante, quando o ovócito de segunda ordem, se uniu ao espermatozóide, há um novo ser, que prescinde completamente daquilo que a senhora gestante pensa. Até o tipo sangüíneo é diferente. Aquilo é uma nova vida.

É absolutamente destituído de qualquer fundamento o argumento de que — como já ouvi muitas vezes de pessoas absolutamente destituídas de preparo — o corpo é da mulher, ela tem o direito de decidir. Isso é absolutamente falso, isso é absolutamente mentiroso, isso é absolutamente cínico, chega a ser até algo próximo de eugenia, muito, muito, muito a favor de teses que ainda medram no espírito de muita gente, cuja tese ideal é que o mundo seja feito de pessoas perfeitas, que não haja deficientes físicos, que seja o nosso planeta constituído de uma população de arianos. Isso é uma beleza, para quem pensa assim.

Mas estudei, aprendi e tenho o direito de defender esta tese: o indivíduo gerado é um novo ser, nada dá o direito de eliminar essa vida. E para os que falam em anencefalia, é bom que se lembre a esses senhores — alguns com diploma de médico também — , que, até o momento de nascer, aquela criatura está viva. Ela vai morrer, mas ninguém sabe exatamente o momento. E, dentre nós, quem sabe quando vai morrer? Quem tem a proterva veleidade de dizer que sabe quando vai desaparecer, se isso é absolutamente impossível, de maneira científica? E como médico, muitas vezes fui inquirido sobre isso: quando vou morrer? Resposta: ninguém sabe. Que direito tem um cidadão, porque é médico, de decretar a morte daquele ser? Nenhum.

Estou falando aqui não em tese espiritual, estou falando em tese científica. E já um colega ilustre ali me disse: espiritualmente, sou contra isso. Não estou defendendo nenhuma tese espiritual, estou dizendo que, mesmo quando o Código Penal defende o estupro, ali há um erro, que mais à frente será corrigido, porque se houve o estupro, e a mulher está absolutamente violentada — e podia ser uma filha minha — eu digo que o ser que está ali não tem nada a ver com ela. Aquele ser que ali está é um ser vivo da espécie humana, que tem que ser defendido pelos congressos, pelas Casas Legislativas, pelo Poder Executivo e, fundamentalmente, pelo Judiciário, que se manifestou de maneira sábia agora.

Quero encerrar dizendo para os senhores que o processo de permissão do aborto caminha junto com uma série de outras teses absolutamente destituídas de fundamento humanista, no sentido de que a população do nosso planeta seja constituída de seres privilegiados. Essa é que é a tese verdadeira! É assim que Malthus está renascendo. É verdade, o neomalthusionismo aí está, querendo que a sociedade seja feita de seres ideais. Agora, pergunto: ideais à imagem de quem? Quem é que tem coragem de dizer o que é o ideal? Será o ideal a tese expendida por Adolf Hitler? Será o ideal a tese de Mussolini? O que é o ideal? A miscigenação é um crime, nesses termos apenas.

Levantei-me, sou de usar pouco o microfone, Sr. Presidente, raras vezes me manifesto, mas mais uma vez percebi que é hora de falar. E se a questão é preparo, eu o tenho; se a questão é diploma de médico, eu o tenho; se a questão é ensinar Medicina, faço isso há 30 anos. Sei exatamente o que estou dizendo. E o recado para os brasileiros é: Cuidado! Que leis semelhantes a essa, ou proposições aqui apresentadas, que teses nesse sentido — e deixo registrado meu aplauso ao Supremo Tribunal Federal — sejam coibidas, e que possamos, isso sim, caminhar em busca de uma sociedade solidária, em que o respeito à vida seja fundamental, de uma sociedade em que todos se respeitem, independentemente de origem, raça, religião ou qualquer outro tipo de convicção.

Quero deixar bem claro que não tenho nada contra ninguém em particular, estou apenas defendendo o direito mais importante de todos: o direito à vida. Muito obrigado, senhores. (Palmas.)


Discurso extraído do site do Prona:
http://www.prona.org.br/interna1.asp?id=107&cidade=Brasil

terça-feira, novembro 01, 2005

Ars Culinarae

Conectado por meio de um adaptador no mesmo botijão que alimenta o forno comum, há aqui em casa um pequeno forno. Seu formato é quadrático e é da largura de cerca de um palmo e meio. É composto de duas chapas de aço, uma fixa, em contato direto com a flama e outra móvel, que funciona como tampa, e na qual há um cepilho de madeira. Se ascende por meio de um orifício na parte frontal, que conduz a uma boca de gás, em formato circular, proporcional ao tamanho da chapa. São duas as intensidades da chama, ajustáveis por meio de um botão, localizado ao lado do orifício pelo qual se ascende o forno: alta e branda. Na chapa não se usa óleo para o preparo do que quer que seja. Depois de limpá-la com um papel toalha umedecido em álcool, põe-se nela o hambúrguer, o presunto, o queijo, o bacon, o ovo, a carne, a charque, a calabresa, et cetera, et cetera, e, com a ajuda de uma espátula com lâmina de alumínio e cabo de madeira, se vai misturando e revirando os ingredientes, que vão dentro do pão ou acompanham o cuscuz.

A propósito, eu não lancho mais em Lindo Olhar.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Poema em Linha Reta

por Fernando Pessoa
sob o heterônimo Álvaro de Campos


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

sábado, outubro 01, 2005

segunda-feira, setembro 26, 2005

As mentiras da filosofante

por Janer Cristaldo

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No Brasil a moda pegou e hoje qualquer professorzinho de Filosofia já se intitula filósofo ao assinar um artigo. Por exemplo, a “filósofa” Marilena Chauí, autora de dois calhamaços sobre Spinoza, que hoje seriam muito úteis em Nova Orleans, para a reconstrução de barragens. Enfim, para algo está servindo o governo Lula. Aos poucos está revelando a indigência mental dos universitários que transformaram um vivaldino sem instrução alguma em esperança de uma nação. “Quando Lula fala, o mundo se abre, se ilumina e se esclarece” – ousou dizer a professora. Para quem acompanha os pronunciamentos do Supremo Apedeuta, é de perguntar-se que ocultos favores estaria Chauí agradecendo, ao proferir tal despautério, que clama aos céus desagravo.

A “filósofa” uspiana, após ter reivindicado publicamente o direito ao silêncio sobre a corrupção generalizada do PT, ao notar que seus eruditos sofismas não convenceram sequer o padeiro da esquina, houve por bem explicar-se em carta a “seus alunos”. Bem entendido, a carta era dirigida à imprensa, mas uma filósofa não vai descer do Olimpo da episteme ao campo raso da doxa jornalística. Tentando justificar o injustificável, a PhDeusa incorre em uma chorumela de mentiras.

(...)

Mas que se pode esperar de uma filosofante que já cometeu o crime mais infamante que um intelectual pode cometer, o crime de plágio? Chauí plagiou vergonhosamente seu orientador, Claude Lefort. O plágio foi publicamente denunciado por José Guilherme Merquior, aliás com um eufemismo: o ensaísta usou o termo desatenção, não mais que isso. Foi o que bastou para que uspianos e similares jogassem Merquior, com abaixo-assinado inclusive, nas profundas do inferno da direita. Houve até quem dissesse que “Marilena é intelectual e militante. Não possui o tempo necessário para leituras. Ela pode agir assim, pela causa". Claude Lefort, a única parte legítima para denunciar juridicamente o crime, também o relevou, o que deixa no ar a pergunta: que ocultos favores estaria Lefort agradecendo?

Leia o texto de Cristaldo na íntegra aqui.

terça-feira, setembro 20, 2005

Convite - Cineclubismo

Será exibido hoje, terça-feira (20/09), o clássico filme de Antonione, Blow-up, às 16h, na sala 3 do prédio de Letras da UePB (antigo colégio Atual).
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Inspirado no conto Las Babas del Diablo, do escritor argentino Júlio Cortazár, Blow-up foi o filme que mais sucesso rendeu a Antonioni; tendo conseguido com ele a Palma de Ouro em Cannes, em 1967, e a indicação aos Oscars de melhor direção e roteiro.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Quando é lícito matar alguém em auto-defesa?

por Tomás de Aquino
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Está escrito (Ex. 22:2): “Se um ladrão for achado entrando numa casa ou arrombando-a, e sendo ferido, morrer; aquele que o feriu não será culpado do sangue.” Ora, é muito mais lícito a alguém defender sua vida do que sua casa. Portanto não é culpado de homicídio aquele que mata outro para defender sua própria vida.

Eu respondo que, nada impede que um ato tenha dois efeitos, somente um dos quais desejado enquanto o outro não-intencionado. Ora, qualificam-se os atos morais de acordo com a intenção, e não de acordo com o que não fora intencionado, uma vez que isto é acidental, como explicado acima (43, 3; I-I, 12, 1). Sendo assim, o ato de auto-defesa pode ter duplo efeito, o de preservar a própria vida, e o de matar o agressor. Por isso este ato, desde que a intenção seja salvar a própria vida, não é ilícito, pois é natural que se queira “existir” o mais que se possa. E, embora provenha de uma boa intenção, um ato pode se tornar ilícito, caso não esteja voltado para tal fim. Assim, se um homem, em defesa própria, usa mais violência do que é necessário, seu ato torna-se ilícito: contudo se ele repelir o agressor com violência moderada sua defesa é lícita, porque segundo os juristas [Cap. Significasti, De Homicid. volunt. vel casual.], “é lícito repelir a força pela força, cuidando para não exceder os limites de uma defesa sem culpa.” Tampouco é necessário à preservação [da vida] que o homem abdique do ato de auto-defesa moderado a fim de evitar matar outro homem, uma vez que é obrigação maior cuidar da própria vida do que da de outrem. Mas por ser ilícito tirar a vida de um homem, à exceção da autoridade pública visando o bem comum, como indicado acima, não é lícito a um homem intentar matar outro ao defender-se dele, a não ser aos que têm autoridade pública e que, ao terem a intenção de matar um homem em defesa própria, visem com isto o bem público, como no caso do soldado lutando contra o inimigo, e o oficial de justiça lutando contra os ladrões, contudo também estes pecam se forem movidos por animosidade pessoal.

Extraído da S.Th. II-II, q.64, a.7. Na íntegra aqui.

sábado, setembro 10, 2005

Os Descrentes

Nunca encontrei um descrente, apenas desvairados inquietos... é assim que é melhor tratá-los. São pessoas diferentes, não se percebe bem o que são: tanto os grandes como os pequenos, os ignorantes como os cultos, mesmo a gente da classe mais simples, tudo neles é desvario. Porque passam a vida a ler e a interpretar e depois, fartos da doçura livresca, continuam perplexos e não conseguem resolver nada.Há quem se disperse, de maneira que não consegue atentar em si mesmo. Há quem seja rijo como pedra, mas no seu coração vagueiam sonhos. Há também o insensível e fútil que só quer gozar e ironizar. Há quem só tire dos livros florzinhas, e mesmo elas consoante a sua opinião, e há nele desvario e falta de perspicácia. E digo mais: há muito tédio.

O homem pequeno é necessitado, não tem pão, não tem com que sustentar os filhos, dorme na palha áspera, mas tem o coração leve e alegre; é pecador e malcriado, mas mantém na mesma o coração alegre. E o homem grande farta-se de comer e beber, senta-se num montão de ouro, mas tem sempre a mágoa no coração. Há quem domine as ciências mas não se livre do tédio. Penso eu, então, que quanto maior a inteligência, maior é o tédio. Além disso, vede: andam a ensinar a gente desde o princípio dos tempos, mas o que lhe ensinaram para que o mundo fosse a mais bela e alegre habitação, recheada de todas as felicidades? E digo também: não têm decoro, nem sequer o desejam; pereceram todos, e todos louvam o seu perecimento, sem pensarem em virar-se para a única verdade (ora, viver sem Deus é um castigo, mais nada). Resultado: amaldiçoamos o que nos ilumina e não o sabemos. Que sentido tem viver assim?

O homem que não venera não vive, um homem assim não suportará a si mesmo, nenhum homem. Se rejeitar Deus, venerará o ídolo... de madeira, de ouro, de pensamento. Estes são idólatras, não são descrentes: é assim que devem ser chamados. Mas, então, não existem descrentes? Sim, há quem seja na verdade descrente, e são esses os mais assustadores, porque trazem sempre o nome de Deus na boca. Ouvi falar dessa gente por mais de uma vez, mas nunca a encontrei. Existe, meu amigo, e acho que deve existir.

Fiodor Dostoievski; In: O Adolescente (fala do personagem Makar Ivánovitch).

quinta-feira, setembro 08, 2005

Denunciando a Decadência

"A todos os meus melhores alunos de graduação eu digo para não cursarem pós-graduação. Façam qualquer outra coisa, garantam a sobrevivência do jeito que for, mas não como professores universitários. Sintam-se livres para estudar literatura por conta própria, para ler e escrever sozinhos, porque a próxima geração de bons leitores e críticos terá de vir de fora da universidade."

Harold Bloom contra-ataca, Folha de S. Paulo, 6 de agosto de 1995. Citado por Bruno Tolentino no prefácio d'O Jardim das Aflições, de Olavo de Carvalho. Diadorim, Rio de Janeiro - RJ: 1995. p.12-13.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Intolerância contra intolerância

por Vincent Cheung

Se for intolerante dizer que somente uma religião é verdadeira e todas as outras são falsas, então nada pode ser mais intolerante que a fé Cristã. Deus afirma através da Bíblia que ele é o único Deus, que Cristo é o único salvador, que a Escritura é sua única revelação verbal, e que a igreja é a única comunidade pactual. Nesse sentido, o cristianismo é intolerante, mas e daí? Eu nunca ouvi um argumento tolerante contra a intolerância. Aqueles que se denominam “tolerantes” dizem que é “intolerância” afirmar que só seu grupo está correto e que todos os outros estão errados; porém, ao afirmar isto, eles estão dizendo que só um grupo é correto (ou seja, os “tolerantes”) e que todos os outros estão errados (ou seja, os “intolerantes”). Então a pessoa tolerante nunca pode dizer que é errado ser intolerante; d’outro modo, ela terá deixado de ser tolerante.
Comentário em Filipenses; p.7. PDF

terça-feira, agosto 30, 2005

Olhe o que eles diziam

Primero, o que eles não tiveram ainda coragem de dizer:

"Nós, da elite intelectual e profissional do país, pedimos as nossas mais sinceras desculpas a toda nação brasileira por termos participado da maior farsa política do Brasil, desde 1500. "

Depois, o que eles diziam:

"A estrela do PT agora inspira outras nações, é a musa do oprimido desabrochando nas canções" — Estrela do PT, canção de Tom Zé.

"Lula representa esperança e não retrocesso, o caos" — dramaturgo Jair Alves (18/10/2002-Regina Duarte tem medo do quê?)

"Ao aceitar ir à televisão e dizer que sente "medo" do candidato Lula, a atriz Regina Duarte não só estigmatizou-se para o resto da vida, como também representou o mais terrível dos seus personagens: uma mulher covarde, acuada e superada pelo seu tempo, deixando transparecer que continua acreditando que comunista come criancinha" — Ariosto Mesquita, Jornalista (O "medo" da atriz global, Observatório da Imprensa, 23/10/2002)

"Dificilmente vemos um presidente chegar ao poder com a legitimidade que obteve o Lula. Fernando Henrique chegou lá por conta do plano real e da mídia" — Maria Victoria, professora titular da Faculdade de Educação da USP, em 2002.

"Em primeiro lugar, acho que a eleição do Lula foi uma vitória. Ter conseguido eleger o Lula talvez tenha sido um último sinal de que algo ainda possa mudar para melhor. O outro lado da moeda é esse de que falei" — Chico Buarque (O Tempo e o Artista , Folha de São Paulo, 26/12/2004).

"Sempre fui Lula, desde 1989. É Lula e pronto. Nem quero falar mais para não atrapalhar" — Chico Buarque. "Na verdade, isso deveria orgulhar um brasileiro -ter um homem com as origens sociais do Lula na Presidência da República"— Chico Buarque (O Tempo e o Artista , Folha de São Paulo, 26/12/2004).

"Lula tem chances reais de ganhar e mudar nossa história" — Wagner Tiso, músico.

"É hora de ajudar o povo sofrido. Nunca votei nele, mas agora é Lula.Vamos lá!" — Zeca Pagodinho.

"Sou Lula para colocar no poder um filho do povo" — Ariano Suassuna, escritor.

"Sou Lula por tudo que significa: luta e esperança" — Fernando Morais, jornalista e escritor.

"Sou Lula por três razões: a primeira é o Serra; a segunda, o Garotinho e a terceira, aquele nervosinho, o Ciro" — Leandro Konder, filósofo.

"Esgotou-se o ciclo neoliberal. É como se tivéssemos regredido dez anos. O país precisa de um projeto nacional e Lula aponta para isso" — José Luis Fiori, cientista político.

"Tem que mudar, tem que mudar. Há 500 anos eles mandam e não resolvem. É hora de Lula" — Ziraldo, cartunista.

"Lula é o único que tem condições de promover um novo contrato social e humanizar o trabalho. Ele é o candidato capaz de discutir e implementar as mudanças necessárias no mundo do trabalho" — João Felicio, presidente da CUT.

"Lula é o mais preparado porque formou-se pela universidade chamada Brasil" — José Leite Lopes, físico.

"Lula representa a ruptura, o novo, o povo. O que veio de baixo" —Leonardo Boff.

"Lula é um contraponto aos doutores da Sorbonne que quebraram o Brasil, estrangularam a pesquisa e o ensino público" —Marcus Barros, diretor do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisa Aeroespacial).

"Voto Lula por compaixão ao povo brasileiro" —Augusto Boal, teatrólogo.

"Sou Lula porque fui mal acostumado: cresci em Porto Alegre, na ótima administração do PT. Aprendi o que é cidadania. Quero o mesmo para todo o país" —Yamandu Costa, violonista.

"Lula tem idéias e propostas que se identificam com nossa trajetória de vida" — Celso Furtado (falecido).

"Sou Lula porque o Brasil precisa de um novo projeto de desenvolvimento nacional" —Márcio Thomas Bastos, jurista.

"Sou Lula porque eu sonho com um Brasil para os brasileiros" —Valdir Azambuja, poeta e professor.

"Voto Lula porque eu voto no Brasil" —Jards Macalé, compositor.

"Lula sempre; hoje mais que nunca" —Maria Nazaré, professora da USP.

"Lula é a solução social e a solução brasileira" — Aldo Lins e Silva, jurista.

"Sou Lula por sua tradição de luta, para ampliar os direitos neste país" —Lúcio Kowarick, sociólogo.

"História, história, história. Lula tem e faz história" —Ênio Candotti, ex-presidene da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).

"Lula vai trilhar os caminhos que a gente precisa" —Marcos Winter, ator.

"Sou Lula pela mudança. Para fazer uma varredura, porque o povo não agüenta mais" —Nelson Sargento, compositor da Portela.

"Porque Lula tem a verdade nos olhos e vai tirar o país do caos" —Mozart Noronha, pastor.

"Lula é sinônimo de esperança. E dela precisamos muito" —Nilcéia Freire, reitora da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).

"Voto Lula porque acredito no Brasil e acredito em nós" —Bete Mendes, atriz.

"É Lula, é Lula, é Lula!" —Janaína Diniz, atriz.

"Lula foi formado pelas experiências de luta de todos estes anos. É a expressão disso que o país reivindica e precisa. É a ponte para nossos sonhos de uma sociedade melhor" — Letícia Sabatella, atriz.

"É a hora do Lula; é o melhor e dessa vez ninguém tira" —Claudia Ohana, atriz.

"Lula é a melhor opção para responder à crise social brasileira" — Paulo Gadelha, vice-presidente da Fiocruz.

"A construção de um país mais justo e igualitário é o desafio das forças políticas aglutinadas em torno de um projeto nacional de desenvolvimento, democrático e popular, expresso nos compromissos da Coligação Lula Presidente". — Anselmo Luis dos Santos (Professor do Instituto de Economia da UNICAMP) e Denis Maracci Gimenez (Pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT/IE/UNICAMP), Mestre em Economia Social e do Trabalho e doutorando em Economia Aplicada pelo Instituto de Economia da UNICAMP), em 2002.

"Em nossa avaliação, a proposta de dobrar o poder aquisitivo do SM nos próximos 4 anos de governo, é antes de tudo, um compromisso político e social viável". — Anselmo Luis dos Santos e Denis Maracci Gimenez, em 2002.

“Não cabe na boca de ninguém com um mínimo de respeitabilidade e fica indecente na boca de quem, como Lula, é vítima permanente do preconceito - tanto nesta como nas suas campanhas anteriores” — Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, em 2002.

“As semelhanças entre Lula e o venezuelano Hugo Chávez se esgotam na falta de experiência governativa prévia e no fato de encarnarem um protesto social represado há séculos.(...) A principal diferença é que Lula nunca tentou chegar ao poder pelo caminho do golpe e tem atrás de si um partido orgânico, enraizado e que se inclina hoje a posições de centro-esquerda.” — Otavio Frias Filho, Folha de S. Paulo, em 2002.

“Agora, a sua escolha [Lula] para presidir o país significa não apenas o reconhecimento da sua notável capacidade, mas, também, da sua qualidade de representante dos trabalhadores, finalmente chamados a participar do governo como força ao lado de outras.” — Antonio Candido, escritor, professor universitário. Lecionou literatura brasileira como professor associado na Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade de Paris, professor-visitante de Literatura Brasileira e Literatura Comparada na Universidade de Yale (EUA), coordenador do Instituto de Estudos da Linguagem, da UNICAMP.

“Um presidente, muita esperança” — Antonio Candido.

“Lula faz lembrar a rosa do povo, cantada por Carlos Drummond de Andrade. É tempo de mudança. A república dos bacharéis pertence ao passado”. —Editorial do Jornal do Brasil, “A Rosa do Povo”, 27/10/2002.

“Eu diria que, com a eleição do Lula, o esforço para tornar concreta a cidadania no Brasil e o esforço para modificar a estrutura vertical e autoritária da sociedade brasileira e dar a ela um cunho democrático é o mais significativo. Nós vivemos um momento excepcional, porque é a primeira vez, desde a proclamação da República, que há um esforço para que não estejamos numa república oligárquica, mas numa república democrática” — Marilena Chauí, filósofa e professora da USP.

“O presidente Lula eu conheço desde que ele se fez como líder sindical, depois líder político. Ele é cristão a seu modo, católico a seu modo” — Dom Cláudio Hummes, cardeal-arcebispo de São Paulo.

“Lula é um grande pai” — Dom Cláudio Hummes.

“Voto Lula porque ele tem lastro político, um partido consistente, um programa viável, uma equipe invejável.” —Carlos Alberto Libânio Christo, “Frei” Betto.

“Lula vai inverter a pirâmide da educação que, no Brasil, anda de cabeça pra baixo.” —Carlos Alberto Libânio Christo, “Frei” Betto.

“Lula, o filho do Brasil “ - Livro de Denise Paraná.

copiado do site do Percival Puggina

quarta-feira, agosto 17, 2005

De Lefort a Marilena: Que Democracia?

Muito antes de desmascararem a patacoada de O que é Ideologia? e de o professor Gonçalo Armijo Palácios publicar a série Convite à Falsificação, em que expôs algumas das incongruências do inaceitável Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, José Guilherme Merquior já havia apontado, em seu estilo brilhantemente claro, e a um só tempo polido e incisivo, as incoerências no raciocínio de nossa "filósofa", resultantes de seu apego atávico às sutilezas da utopia marxista; bem como a técnica de citar o pensamento de um outro autor sem as aspas -- a qual comumente chamamos plágio.
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por José Guilherme Merquior
In: O Argumento Liberal, p.135-141.

“Todo sistema totalitário pretende ignorar o conflito e (...) impor a todas as atividades sociais um denominador comum. Não se pode dizer que a democracia se caracteriza, ao contrario, por sua intenção de enfrentar a heterogeneidade dos valores, dos comportamentos e dos desejos, e de fazer dos conflitos um motor de crescimento?”
Claude Lefort


“Há na democracia um apelo interno ao socialismo.” Com essa convicção, Marilena Chauí dedica dois ensaios (e dois terços) de seu brilhante e recém- publicado Cultura e Democracia (Ed. Moderna, S. Paulo) ao que há pouco discutíamos, em debate com Carlos Nelson Coutinho*: à tentativa de revalorização do princípio democrático no ensaísmo marxista ou marxizante brasileiro. Mas enquanto Carlos Nelson procura conciliar sua louvável defesa do valor universal da democracia com uma apologia do pensamento político de Lênin, Marilena nem perde tempo com tarefa tão ingrata: seu democratismo marxizante já passa tranqüilamente por uma resoluta rejeição de Lênin. É que o guru de Marilena não é nenhum marxista ocidental leninista, tipo Lukács ou Gramsci, e sim a voz mais interessante do gauchisme: Claude Lefort. Na realidade, embora o cite expressamente um par de vezes, Marilena deve a Lefort bem mais do que seu texto reconhece (o que talvez se explique pela destinação originariamente oral desses ensaios), já que seu próprio fraseado se acha, em vários trechos, diretamente calcado na obra do teórico francês, a começar pelos Eléments d’une Critique de la Bureaucratie (1971).

A diferença entre Lênin e Gramsci (cuja teoria política é perfilhada por Carlos Nelson) é de grau — mas a diferença entre Lênin e Lefort é de natureza. A divergência entre Gramsci e Lênin se resume numa questão de tática. Gira em torno do reconhecimento, pelo italiano, da força da sociedade civil no Ocidente, e, portanto, da necessidade de fazer preceder a tomada revolucionária do poder de uma ampla hegemonia sociocultural das massas. Já com Lefort, que se propõe radicalizar a crítica de Rosa Luxemburgo ao bolchevismo, a divergência é estratégica: não se refere ao problema da conquista do poder, mas à própria substância do poder revolucionário, enquanto centralismo despótico e elitista. Ex-trotskista, Lefort conservou do autor de A Revolução Traída um horror. à dominação do partido degradado em burocracia absolutista. Amigo íntimo de Merleau-Ponty (1908-1961), herdou desse filósofo, grande adversário de Sartre nos anos 50, a consciência da ambigüidade radical de todo estar no mundo humano, ambigüidade que torna utópico — e necessariamente violento — todo e qualquer anelo de agir em nome de uma pretensa transparência do sujeito, quer individual, quer — como o partido revolucionário — coletivo. Se a história, ação humana, não é essencialmente transparente, então nenhuma força que pretenda encarná-la poderá aspirar com legitimidade à direção global da sociedade. A idéia de uma vanguarda no poder – o modelo leninista – perde com isso sua sustentação filosófica. A influência de Merleau-Ponty reforçou a ruptura de Lefort com o sebastianismo trotskista, que ainda se alimentava da ilusão de salvar o partido do despotismo burocrático.


Para o outro maitre-à-penser do gauchisme, Cornelius Castoriadis, companheiro de Lefort no grupo Socialismo ou Barbárie, o marxismo libertário de Lefort padece de um defeito: não satisfaz a um mínimo de requisitos organizacionais do combate revolucionário. Mas é que Cas­toriadis quer a todo custo salvar o princípio da revolução — mesmo ao preço do abandono do marxismo. Lefort é muito menos lírico, e muito mais ambíguo. Para quem não se considere comprometido com o mito da revolução, porém, a verdadeira lacuna de seu pensamento é outra. Em Lefort, a vontade de escapar ao leninismo sem cair no liberalismo desemboca numa análise da sociedade contemporânea que pode ser politicamente relevante (crítica do burocratismo), mas é sociologicamente vaga (a sociedade burocrática é algo histórica e institucionalmente muito indeterminado). Além disso, do lado construtivo, esse gauchisme não oferece mais do que um libertarismo difuso, quase completamente destituído de viabilidade prática. Um protesto romântico, sem projeto político-social.

Valeria a pena indagar até que ponto essa carga romântica do libertarismo lefortiano convida ao flerte com teorias do conhecimento igualmente pouco racionais. Marilena coloca seu livro sob a égide das delirantes invectivas da escola de Frankfurt contra “as pressões sociais que a ciência (sic) criou” (Max Horkheimer); e prefacia sua teorização política pela adoção de uma antítese, entre o “conhecer” e o “pensar”, cujo talhe heideggeriano cheira e soa ao mais sovado irracionalismo neo-romântico. Nem é difícil associar a essa atmosfera irracionalista o seu hábito de denunciar as preocupações de racionalidade econômica como coisa meramente alienada, desumanizante e repressiva. Decepciona ver uma autora tão sofistica incidir nesse cacoete humanístico, que, a pretexto de repudiar certas falácias da tecnocracia, termina negligenciando infantilmente uma das maiores obrigações da reflexão social em nosso tempo: a absoluta necessidade de incorporar a lógica do econômico — relativa, mas, até certo ponto, irredutível — ao discurso que se queira objetivo sobre poder e sociedade.

Como era de esperar, o marxismo antiburocrático extrema o gosto marxiano pela demonização do estado. Marilena revela alto apreço pelo desbragado filosofismo da nova escolástica neomarxista, especialmente alemã, no capítulo da teoria do estado; mas não demonstra igual interesse pela análise empírica do fenômeno da estatificação, seja historiográfica (de um Stein Rokkan a um Char­les Tilly, por exemplo), seja sociológica. A despeito de seu breve elogio à crítica de Miguel Reale à miopia antiestatista de muitos liberais, nossa pensadora se mantém no essencial, fiel à dogmática estadofobia marxista, ao mito do estado como eterno instrumento de opressão de classe. Daí seu pronunciamento, em nome do “apelo socialista” da idéia democrática, contra a perspectiva de um movimento social-democrático no Brasil, por ela considerado “etapista, legalista, parlamentarista, estatista, nacionalista e aliancista”. À soma, para muitos quase impecável, desses atributos, ela contrapõe o ideal de um radicalismo obreiro (p. 206-7) de prática “antiestatal” (p. 131). O motivo desse puritanismo antialiancista é uma velha melodia marxista: o ódio supersticioso ao reformismo, o apego fundamentalista ao Desejo de Revolução. Aqui, visivelmente, Marilena se separa da ótica bem mais desencantada — ou bem mais lúcida — de Lefort.

E, contudo, o decisivo é saber se a posição de Marilena supera os equívocos (que Lefort procura evitar) do ataque marxista contra a democracia liberal. Nesse ponto, curiosamente, a autora oscila entre duas direções. Por um lado, ao longo de seu justo e eloqüente inventário das carências e iniqüidades que compõem nosso colosso de privilégio e autoritarismo (p. 159-61), ela não advoga, a rigor, nada que não seja perfeitamente integrável numa democracia de índole social-liberal, nada que não possa ser oferecido pela combinação do estado de direito com o estado-previdência. Por outro lado, no plano teórico, endossa a vulgata marxista, decretando que “a liberdade é impossível numa democracia liberal”, já que, enquanto houver uma classe dominada, as relações sociais, da produção à ideologia. servem de obstáculo permanente à autodeterminação do homem.

Tomara que essa defasagem entre teoria utópico-radical e programa político razoável e, que me perdoem os “radicais” o palavrão, sensata e humanitariamente reformista possa perdurar na prosa do nosso marxismo de cátedra e salão. Afinal de contas, foi na base de uma dissonância análoga que, na Belle Époque européia, a social-democracia germânica realizou a educação política dos trabalhadores alemães. A audácia de Bernstein foi apenas ter ousado ser revisionista também na teoria; na prática, como é sabido, todos os ortodoxos, Kautsky à frente, foram indecentemente reformistas.

Mas o que precisa ser logo contestado, nesse verbalismo “radical”, é a cansativa mania de reduzir a imagem liberal da democracia ao nível de uma simples visão “burguesa”. Visão burguesa que, alega-se, “politiza” o universo democrático para esvaziá-lo de suas potencialidades sociais... Infelizmente para quem teima em sustentar esse ponto de vista, a realidade histórica tem sido bem diversa. A democracia liberal não foi nenhuma dádiva-engodo da burguesia; foi uma conquista popular, forçando, por etapas, o alargamento universalista da cidadania e das liberdades, até o atual desdobramento dos direitos civis e políticos em vários direitos sociais. E, para tanto, a democracia – o regime da liberdade na igualdade, ou melhor, numa dinâmica de igualização – operou por meio da ativação de um mecanismo – o mercado político – a que socializantes pós-liberais como C. B. Macpherson, citado simpaticamente por Marilena, torcem seu delicado nariz “humanista”. Como se o primeiro cuidado de todos os autoritarismos (a começar pelos nossos, na convincente análise de Bolívar Lamounier) não tivesse sido sempre, justamente, impedir esse mercado político de funcionar.

Marilena condena saudavelmente o “reducionismo classista” do marxismo crasso. Mas o que ela tem em mente é apenas o economicismo, o “formalismo socialista”, para o qual socializar é tão-somente coletivizar os meios de produção. Assim, quando um Norberto Bobbio aponta a dificuldade de fazer atuar a democracia, em sua plenitude, numa sociedade como a contemporânea, dominada pela crença inevitável de grandes burocracias e de uma medida também inevitável de gestão tecnocrática, paradoxalmente derivadas da pressão das próprias massas, ansiosas por progresso e segurança, tudo o que nossa teórica tem a comentar é que esses males e paradoxos não procedem do próprio jogo político-social da democracia representativa, e sim da libido dominandi do capitalismo moderno. . . Convenhamos que é ficar muito, muito perto de uma visão conspiratorial do processo histórico, sem ter sequer o trabalho de tentar fundamentá-la com algo mais que a mera invocação ritual do demônio disfarçado de formação social. Num dos melhores momentos de seu livro, ao expor a política de seu – e meu – querido Espinosa, Marilena lembra que, para a teoria política moderna, o eixo do bom regime não é mais, ou só, a motivação os governantes, mas a excelência das instituições e, em particular, sua aptidão a garantir a segurança dos cidadãos por meio de mecanismos que impeçam a monopolização da autoridade por qualquer tipo de poder social. Pois bem, a pergunta que deve ser claramente respondida é: alguém conhece algum regime mais capaz de concretizar essa garantia (e, através dela, expandir liberdades reais) do que a tensa, imperfeita e precária democracia liberal? Se o filosofismo “radical” o conhece, ainda não nos fez a graça de demonstrá-lo; e, se não conhece, temos o direito de pedir à sua retórica acusatória que se dedique a avaliar um pouco menos superficialmente o sentido e função das liberdades democráticas.


* Ver o ensaio “Marxismo e democracia” no meu livro As Idéias e as Formas (Rio, 1981), p. 232-40. O presente ensaio foi primeiro publicado, sob outro título, no Jornal do Brasil de 2.5.81.


sexta-feira, julho 29, 2005

Alguns Toureiros

por João Cabral de Melo Neto
a Antônio Houaiss
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Eu vi Manolo Gonzáles
e Pepe Luís, de Sevilha:
precisão doce de flor,
graciosa, porém precisa.

Vi também Julio Aparício,
de Madrid, como Parrita:
ciência fácil de flor,
espontânea, porém estrita.

Vi Miguel Báez, Litri,
dos confins da Andaluzia,
que cultiva uma outra flor:
angustiosa de explosiva.

E também Antonio Ordóñez,
que cultiva flor antiga:
perfume de renda velha,
de flor em livro dormida.

Mas eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais deserto,
o toureiro mais agudo,
mais mineral e desperto,

o de nervos de madeira,
de punhos secos de fibra
o da figura de lenha
lenha seca de caatinga,

o que melhor calculava
o fluido aceiro da vida,
o que com mais precisão
roçava a morte em sua fímbria,

o que à tragédia deu número,
à vertigem, geometria
decimais à emoção
e ao susto, peso e medida,

sim, eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais asceta,
não só cultivar sua flor
mas demonstrar aos poetas:

como domar a explosão
com mão serena e contida,
sem deixar que se derrame
a flor que traz escondida,

e como, então, trabalhá-la
com mão certa, pouca e extrema:
sem perfumar sua flor,
sem poetizar seu poema.
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foto:Reuters

quarta-feira, julho 27, 2005

Por que os homens são tão bestas

por Jacob Bazarian
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Segundo a Curva de Gauss ou a Curva do sino, a distribuição normal de quocientes de inteligência (QI) em qualquer agrupamento humano volumoso (alunos de uma escola, funcionários de uma empresa, população de uma cidade et cetera) apresenta aproximadamente a seguinte proporção:

· 1% de idiotas, imbecis e cretinos, com um QI abaixo de 70;
· 5% de débeis mentais com QI de 70 a 79;
· 15% de retardados mentais com QI de 80 a 89;
· 58% de indivíduos normais com QI entre 90 a 109;
· 15% de indivíduos inteligentes com QI de 110 a 119;
· 5% de indivíduos muito inteligentes com QI de 120 a 129; e
· 1% de indivíduos de inteligência superior com QI de 130 a 140.

Quando o indivíduo tem um QI abaixo de 70 é considerado oligofrênico (falta de inteligência).
Quando o indivíduo apresenta um QI acima de 140 é considerado um gênio, o que raramente ocorre.

Segundo a Curva de Gauss, 21% da população teria QI abaixo do normal. Mas essa distribuição de QI é apenas uma hipótese teórica. Na prática, deparamo-nos com outra distribuição mais realista. A população de uma empresa ou país pode ser assim concebida:

· 90% têm um quociente de inteligência abaixo do normal. São os retardados, os débeis mentais e os oligofrênicos: cretinos, imbecis ou idiotas.
· 9% são normais, e 1% é acima do normal.
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Em outras palavras, a maioria absoluta é besta.
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Os donos de companhias cinematográficas, fonográficas, os produtores de televisão, os editores et cetera sabem muito bem disso. Visando o máximo de lucro possível, eles procuram abranger o maior número possível de consumidores, construindo seus programas num nível inferior, isto é, destinados preferencialmente aos retardados, débeis mentais e oligofrênicos.

Ocasionalmente, quando há um filme, um programa, uma revista, um disco ou livro destinados aos 10% normais, há, certamente, prejuízo que somente é compensado pelo lucro fabuloso que trazem os filmes, novelas, revistas, jornais, livros, discos et cetera destinados aos subnormais.
Quando você lidar com o público, lembre-se disso e não terá ilusões nem prejuízos. O único perigo é, com o tempo, tornar-se um deles de tanto lidar com eles.

Há mais subnormais do que você possa imaginar. Preste atenção ao seu redor. Quais são as preferências culturais das pessoas? Como é seu vocabulário? Quê lêem? Quê falam? Isso, sem dúvida é um grande mal que é preciso sanar com urgência.

Se você se considera um indivíduo com QI acima do normal, ou quase um gênio, ou um gênio, não fique embevecido com sua capacidade. Lembre-se da fábula de La Fontaine na qual a lerda e modesta tartaruga ultrapassou a rápida e pretensiosa lebre.

O trabalho esculpiu o homem e continua a processá-lo. A melhor prova disso: basta deixar de trabalhar e de pensar que o homem acaba se tornando animal irracional. Pense e trabalhe.
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Poeminha Sentimental

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta.
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!?)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam

(Mário Quintana)

segunda-feira, julho 25, 2005

A necessidade de pensar sobre o fim

Não é preciso ter uma alma muito instruída para compreender que não existem, neste mundo, alegrias sólidas e verdadeiras, que nossos prazeres todos não passam de vaidades, que nossos males são infinitos, e que a morte, que nos ameaça a cada momento, vai nos levar em poucos anos, e de modo infalível, à horrível necessidade de sermos eternamente aniquilados ou eternamente infelizes.

Não há nada mais real ou terrível do que isso. Aparentemente a coragem que bem entendermos, é esse o fim que aguarda a mais bela vida do mundo. Que se reflita sobre isso, e que se diga, depois, se não é fora de dúvida que não existe outro bem nesta vida a não ser o da esperança em outra vida; que não somos felizes senão na medida em que nos vamos aproximando dessa outra vida, e que, assim como nos vamos aproximando dessa outra vida, e que, assim como não haverá mais desgraça para os que tinham inteira garantia da eternidade, não haverá também felicidade para os que necessitam de toda luz.

Assim, se duvidar é um grande mal, é no mínimo um dever indispensável buscar a verdade quando se está nessa dúvida; e, desse modo, quem duvida e não procura é a um só tempo bastante infeliz e injusto; e se, além disso, vive tranqüilo e feliz, se disso se gaba, e disso tira vaidade, e se nesse estado encontra motivo para alegria, não tenho palavras para qualificar extravagante criatura.

Onde buscar esses sentimentos? Que motivo de contentamento encontrar na espera de misérias sem remédio? Que motivo de vaidade há em ver na obscuridade impenetrável, e como pode acontecer que esse raciocínio passe pela cabeça de um homem razoável?

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PASCAL, B. Pensamentos. Art. III. pp. 82. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

segunda-feira, julho 11, 2005

Isso é pergunta que se faça?

...tentava criar uma comunidade no Orkut quando fui metralhado por esta indagação que me deixou em profunda crise existencial:

Lula é um erro de concordância

Depois de ver a comunidade do Orkut eu fui conferir no próprio programa... só pra chegar ao que eu já sabia ser verdade; até o Word sabe que Lula é um erro concordância:

sábado, julho 02, 2005

Prolongando as Férias

As aulas começaram? foi mesmo?!? Que pena: estou de férias aqui; participando disto. Portanto, se você for meu colega de turma, amigo, amigo mesmo, anote tudo o que os professores pedirem pra xerox ou entrega e me informe... eu volto.
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Grato desde já,
Márcio S. Sobrinho.

sexta-feira, julho 01, 2005

Atenção: O Foro de São Paulo não existe!

Luiz Felipe de Alencastro, o sábio da Veja, quando consultado sobre o Foro de São Paulo, disse o seguinte:

"Nunca ouvimos nada a respeito no Brasil. Não sabemos nada disso, e é maluco como essa coisa cresceu – foi um jornalista conhecido como sujeito muito conservador e de extrema direita, que escreve num jornal no Rio, quem começou com toda essa coisa. Nunca ouvimos nada a respeito."

Só não sei se vai dar pra negar a existência do Foro quando os (belo eufemismo para as FARC e cia ltda:) "partidos progressistas" se reunem no Brasil,a apartir de hoje:




Mesmo sendo tudo isso pura invencionice de um reacionário doido, gostaria de indicar dois textos sobre o assunto:

E por que não o impeachment agora? - Caio Rossi
Um pouco de história sobre o Foro de São Paulo - C. Azambuja

quarta-feira, junho 29, 2005

Dos dezenove aos vinte e oito anos

Durante esse período de nove anos – dos dezenove até os vinte e oito – fui seduzido e sedutor, enganado e enganador, conforme minhas muitas paixões; publicamente, com aquelas doutrinas que se chamam liberais; ocultamente, com o falso nome de religião, mostrando-me aqui soberbo, ali supersticioso, e em toda parte vaidoso. Ora perseguindo a aura da glória popular até os aplausos do teatro, os certames poéticos, os torneios de coroas de feno, as bagatelas de espetáculos e a intemperança da luxúria; ora, desejando muito purificar-me dessas imundícies, levando alimento aos chamados “eleitos” e “santos”, para que na oficina de seu estômago fabricassem anjos e deuses que me libertassem. Tais coisas seguia eu e praticava com meus amigos, iludidos comigo e por mim.

Riam-se de mim os arrogantes, e os que ainda não foram prostrados e salutarmente esmagados por ti, meu Deus; mas eu, pelo contrário, hei de confessar diante de ti minhas torpezas para teu louvor. Permite-me, te suplico, e concede-me que me lembre fielmente dos desvios passados do meu erro, e que eu te sacrifique uma vítima de louvor.

De fato, sem ti, que sou eu para mim mesmo senão um guia que conduz ao abismo? Ou que sou eu, quando tudo me corre bem, senão uma criança que suga teu leite, e que se alimenta de ti, alimento incorruptível? E que é o homem, seja ele quem for, se é homem? Riam-se de nós os fortes e poderosos, que nós, débeis e pobres, confessaremos teu santo nome.
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extraído das Confissões de Agostinho; Livro IV, Cap.I.

segunda-feira, junho 27, 2005

Meu coração, mantém-te jovem

Esqueci de anotar o nome do escritor, lembro apenas que é grego do século IV a.C.; esse poema está naquela coletânea de poesia grega e latina da Cultrix:

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__Meu coração, mantém-te jovem!
_____ Outros homens virão,
_____ e morto eu me farei
_____ apenas terra negra.
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__Mocidade e velhice lamentamos:
uma porque se vai, e porque chega a outra.
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__Coisa insensata é lastimar os mortos,
_____insensata e pueril,
__se a flor da mocidade não choramos...
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sábado, junho 25, 2005

A refutação cabal do socialismo

por Alceu Garcia,
em Abril de 2002.
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Introdução
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O fracasso do socialismo como princípio de ordenamento social é hoje evidente para qualquer pessoa sensata e informada – o que exclui, é claro, os socialistas. Estes, porém, insistem que o malogro coletivista foi um mero acidente histórico, que a teoria é fundamentalmente correta e que pode funcionar no futuro, se presentes as condições apropriadas. Tentarei demonstrar nesse texto, recorrendo na medida das minhas limitações aos ensinamentos da escola austríaca de economia, que absolutamente não é esse o caso, que a teoria econômica (para não falar dos fundamentos filosóficos, éticos, sociológicos e políticos!) do socialismo é insustentável em seus próprios termos, e que ipso facto os resultados calamitosos constatados pela experiência histórica são, e sempre serão, uma consequência inevitável de uma ordem (rectius: desordem!) socialista. Não é preciso enfatizar a importância de se ter plena consciência da natureza perniciosa dessa corrente política e de suas funestas implicações, uma vez que em nosso país um poderoso movimento totalitário está muito próximo de tomar o poder.'
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[
continuar...]
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sexta-feira, junho 24, 2005

Encontro Nacional dos Estudantes de Letras - 2005

O resumo do Termo de Responsabilidade a ser assinado por quem pretenda participar do ENEL 2005 é mais ou menos esse: Não use álcool ou drogas em excesso nem danifique coisa alguma pertencente à universidade; e se durante o evento um tubarão comer sua perna, favor lembrar, a culpa é sua.

www.enel2005.k6.com.br

quinta-feira, junho 23, 2005

A Verdade é Relativa?

(Um diálogo entre Sócrates e Protágoras)
por Autor Desconhecido

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Protágoras: A verdade é relativa. É somente uma questão de opinião.
Sócrates: Você quer dizer que a verdade é mera opinião subjetiva?
Protágoras: Exatamente. O que é verdade para você, é verdade para você, e o que é verdade
para mim, é verdade para mim. A verdade é subjetiva.
Sócrates: Você quer dizer realmente isso? Que minha opinião é verdadeira em virtude de ser minha opinião?
Protágoras: Sem dúvida!
Sócrates: Minha opinião é: A verdade é absoluta, não opinião, e que você, Sr. Protágoras, está absolutamente em erro. Visto que é minha opinião, então você deve conceder que ela é verdadeira segundo a sua filosofia.
Protágoras: Você está absolutamente correto, Sócrates.
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quarta-feira, junho 22, 2005

Puggina

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Momento Fotolog - Poser

Ontem, antes de eu estragar o dia, fomos eu Flávia e Thales ver a exposição de pós-impressionismo do SESC. Depois disso, nada mais poser, ao Café & Poesia...
Já é tarde e estou sem paciência pra relatar como foi a exposição -- o que seria, aliás, mais poser que o Café & Poesia, então, quem quiser vá lá e veja -- e sem paciência pra falar sobre qualquer outra coisa, bastando dizer que, lamentavelmente, nunca mais serei um dos 35.000 melhores amigos de Flávia.