segunda-feira, julho 25, 2005

A necessidade de pensar sobre o fim

Não é preciso ter uma alma muito instruída para compreender que não existem, neste mundo, alegrias sólidas e verdadeiras, que nossos prazeres todos não passam de vaidades, que nossos males são infinitos, e que a morte, que nos ameaça a cada momento, vai nos levar em poucos anos, e de modo infalível, à horrível necessidade de sermos eternamente aniquilados ou eternamente infelizes.

Não há nada mais real ou terrível do que isso. Aparentemente a coragem que bem entendermos, é esse o fim que aguarda a mais bela vida do mundo. Que se reflita sobre isso, e que se diga, depois, se não é fora de dúvida que não existe outro bem nesta vida a não ser o da esperança em outra vida; que não somos felizes senão na medida em que nos vamos aproximando dessa outra vida, e que, assim como nos vamos aproximando dessa outra vida, e que, assim como não haverá mais desgraça para os que tinham inteira garantia da eternidade, não haverá também felicidade para os que necessitam de toda luz.

Assim, se duvidar é um grande mal, é no mínimo um dever indispensável buscar a verdade quando se está nessa dúvida; e, desse modo, quem duvida e não procura é a um só tempo bastante infeliz e injusto; e se, além disso, vive tranqüilo e feliz, se disso se gaba, e disso tira vaidade, e se nesse estado encontra motivo para alegria, não tenho palavras para qualificar extravagante criatura.

Onde buscar esses sentimentos? Que motivo de contentamento encontrar na espera de misérias sem remédio? Que motivo de vaidade há em ver na obscuridade impenetrável, e como pode acontecer que esse raciocínio passe pela cabeça de um homem razoável?

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PASCAL, B. Pensamentos. Art. III. pp. 82. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

2 comentários:

Lenildo Ferreira disse...

Triste viver o de quem não tem a esperança em um existir além dessa tão ínfima vida. "Vaidade de vaidade, diz o Pregador, é tudo vaidade."

Anônimo disse...

Poxa Márcio, seu blog é xou...