quarta-feira, junho 15, 2005

Chico Boboca de Holanda?

por Leo Melgaço

Chico Buarque, em uma série de entrevistas recentes, afirmou:

“Tenho amigos, hoje, um pouco distantes. É essa a minha relação com Cuba. Existe, é claro, para a minha geração, um outro tipo de relação, afetiva, que vem da revolução cubana. Nos anos 60, aquilo era muito forte para nós. Um exemplo de resistência. Ainda hoje o ditador Fidel Castro, como gostam de dizer os jornais, inclusive a Folha... Ele é o único adversário dos Estados Unidos na América Latina que resistiu a golpes de Estado e assassinatos e está ali. Todos os outros foram depostos ou assassinados. Ele sobreviveu a vários atentados. Manteve e mantém até hoje uma posição altiva. E isso é algo que ninguém deve ignorar e que eu admiro. Quanto a fuzilamentos ou a prisão de dissidentes políticos, fico contrariado, porque não gosto e não concordo com isso. A questão toda é muito delicada. Eu gostaria que Cuba fosse um país democrático. Agora, eu gostaria de uma maneira, e o Bush gostaria de outra. Cuba poderia ser hoje o Haiti. Cuba não é. É claro que me desagrada a idéia de um partido único, de liberdades vigiadas, mas existe ao mesmo tempo a necessidade de um controle para manter os valores da revolução, que a meu ver são louváveis.” Folha de São Paulo - 26/12/04

Depois de ler essa célebre parte da entrevista, fiquei-me a perguntar: como alguém pode ter alguma relação afetiva com Cuba? Como alguém pode acreditar que Fidel Castro -- aquele velho capenga que mal se sustenta nas próprias pernas -- pode ser inimigo número um dos Estados Unidos? Parece até piada, mas não é. O Chico Buarque, por onde passa, sai destilando essas tolices. Para ele, um país economicamente insignificante, insuficiente, pobre e miserável, é uma forte contraposição a maior potencia econômica do mundo.

O pior de tudo, é que ele põe a violação aos direito humanos como um mero detalhe. Manter os “valores da revolução” em cima da morte de milhares inocentes que, simplesmente, se contrapuseram ao regime, para ele, “é louvável”. Mas como eu não sou idiota a ponto de achar bonita uma atrocidade como essa, contrariamente ao Chico Buarque, ao invés de ficar tocando cavaquinho, eu trago-lhes o resultado da revolução:

“Fuzilados: 5.621. Assassinados extrajudicialmente: 1.163. Presos políticos mortos no cárcere por maus-tratos, falta de assistência médica ou causas naturais: 1.081. Guerrilheiros anticastristas mortos em combate: 1.258. Soldados cubanos mortos em missões no exterior: 14.160. Mortos ou desaparecidos em tentativas de fuga do país: 77.824. Civis mortos em ataques químicos em Mavinga, Angola: 5.000. Guerrilheiros da Unita mortos em combate contra tropas cubanas: 9.380. Total: 115.127” - Cuba em Números.(Belos valores, não?)

Chico Buarque é um dos mais celebres ícones brasileiros. Respeitado tanto na música quanto na literatura -- ou em qualquer coisa que ele queira se meter. Ao lado dele, existe outro “cabeça-chata”: Caetano Veloso. Seja na ciência, na física, na química, nos estudos epistemológicos, na medicina, na agropecuária, na política ou na economia, você sempre se deparará com 50 ou 100 opiniões desses dois – opiniões idiotas, é lógico. O eterno garoto dos olhos verdes fala manso, não tem inimigos, é cativante, é um sujeito que agrada quase 100% da população brasileira. Em 2004, ele escreveu um dos piores romances de todos os tempos; mas pouco importa se é ruim, o que interessa é que ele sempre será premiado pelas porcarias que faz. No Brasil, não interessa a qualidade, o que importa é que foi feito por ele.

Aqui se tem o costume de fazer escolhas erradas. Talvez, isso explique o fato de Chico Buarque ser um grande ídolo dessa nação. Vejamos: O Brasil teve dois economistas que se destacaram e ganharam fama. O Celso Furtado e Roberto Campos. O primeiro, criou as piores teorias econômicas já vistas. Defendia a regulamentação da economia, o aumento do estado e a expulsão dos capitais estrangeiros. Já o segundo, era seu antípoda. O que Campos defendia Furtado condenava. Campos era a favor da liberdade no seu sentido mais amplo. Defendia a desregulamentação da economia, a privatização, a inserção do Brasil no processo de globalização, o incentivo à entrada de capitais estrangeiros. Mordaz, agressivo, insistente na defesa de suas idéias, Campos foi perseguido durante metade de sua vida por uma multidão de inimigos que o chamava ironicamente de "Bob Fields". Por outro lado, o Celso furtado, o rei das teorias infundadas, morreu idolatrado e quase inquestionável nessa republiqueta. Como se não bastasse, hoje, as suas teorias são estudadas em todos os cursos de economia pelo Brasil afora -- enquanto nos outros países se estudam Mises e Hayek.

Toda essa anomalia na hora de fazer escolhas, toda incapacidade de aprender com os erros e toda burrice que acomete os brasileiros, são fenômenos que transformam o Brasil nesse terreno estúpido rodeado de idiotas que idolatram mentecaptos sem fazer o mínimo questionamento sobre as suas densidades éticas e intelectuais. Como não sou um “brasileiro que não desiste nunca”, termino com alguns questionamentos que não saem da minha memória – Chico, se algum dia você ler esse texto, o que é pouco provável, me responda: Por qual motivo você condenou a ditadura brasileira, exilou-se, e, hoje, apóia uma ditadura que já matou quase 20 vezes mais da qual fugiu? Por que, Chico? Por quê? Os cubanos te imploram; afaste deles esse... “Cálice”.

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extraído de http://www.capitolio.org/content/view/21/2/

6 comentários:

Lenildo Ferreira disse...

Sempre tive uma preocupação com meu insistente repúdio a Chico Buarque, que toda a vida considerei um dos imbecis idolatrados no Brasil, a despeito de toda a futilidade de sua produção. Esse texto me alivia completamente a consciência, de forma que sinto-me plenamente justificado a ter nojo de um mentecapto "amigo" de um assassino como Fidel.

Paula Theotonio disse...

Concordo completamente. É como se tudo o que Chico Buarque fizesse fosse é sagrado, e nem sempre é bom. Haja imbecilidade nesse povo...

Anônimo disse...

Falar mal do Chico é fácil, difícil é compreender, de maneira simples e anti-custodiana [como costuma proceder meu amigo Nildo em suas análises] a profundidade do pensamento político do bom moço quando ele assevera, por exemplo, que a questão dos fuzilamentos é por demais delicada. Certamente Leo Melgaço, autor do texto do post, não aprendeu, com Percival Puggina, que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa...
É sabido que Chico condenou o regime militar, no entanto, é certo também que o rapaz acabaria sendo tachado de incoerente caso procedesse da mesma forma com a ditadura castrista, e a razão para isso é óbvia: ditadura de direita é uma coisa, ditadura de esquerda é outra totalmente diferente.
Márcio e seus amigos reacionários não entendem que acalmar os ânimos dos baderneiros que ameaçavam a ordem da nação e que, como afirmou o Marechal Castello Branco em célebre frase, de nada serviam senão para desestabilizar a economia é atentar contra os direitos humanos: isso é uma coisa. Fuzilar os cubanos que tentam se mandar a nado da ilha cárcere, é, no imaginário de Chico, simples questão de delicadeza e isso, obviamente, é outra coisa...

Anônimo disse...

Aos camaradas d plantão!
Criticar o posicionamento politico,ideológico,filosófico d um artista importante da dimensão e genialidade d Chico Buarque...me parece extremamente oportuno e pertinente.Não me parece no entanto necessário ou relevante discutir um posicionamento,de seja lá quem for,colocando-o como boboca,idiota,mentecapto ou quaisquer outros adjetivos adolescentes de quem aparenta que está conhecendo agora a acidez da língua. Discutamos,e inclusive,discordemos,porém,reduzir um artista,compositor magistral e intérprete único como Chico aos seus possiveis equívocos políticos,me soa simplório por demais,reducionista e,pra usar o jargão do autor,boboca.E finalmente,Chico não vive expressando opinião a respeito de tudo não...e mentecapto,camaradas,é um adjetivo desnecessário,no mínimo.
Continuem denunciando as atrocidades castristas,porém sem resvalar em armadilhas indelicadas e infantis da língua mal utilizada.Aproveitem e aprendam a tocar cavaquinho e a escrever coisas tão ruins como as de Chico.Ah!e lembrem também das atrocidades mais que óbvias da maior potencia economica do mundo.Uma coisa é uma coisa,outra coisa é outra coisa,tem a reciproca da reciproca,não é mesmo?
Flávia

Márcio S. Sobrinho disse...

Quando li a resposta de Flávia pensei em fazer uma oração pela alma do Melgaço. Mas aí lembrei que já não é de agora que se comete esse pecado, e então teria de orar também pela alma do adolescente profº. Olavo de Carvalho, que incluiu Chico em sua reunião de artigos acerca do panorama intelectual brasileiro: O Imbecil Coletivo.

Mas, afinal, boboca ou imbecil???

Há quem ache Chico bom músico e compositor... eu, p.ex., acho isso. Há até quem ache Chico “interpréte único”, eu, p.ex., acho isso... um exagero; mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é que, até onde pude entender, o texto de Melgaço não trata da competência musical de Chico; e me parece um sofismazinho tolo querer trazer os dotes artísticos do moço à baila para amenizar os despautérios que ele profere.

E, ainda mais importante é dizer que, nem Melgaço chamou Chico de Boboca – veja se o título não é uma pergunta – nem Olavo o chamou de Imbecil, já que citei esse outro adolescente encrenqueiro aprendendo a usar da acidez da língua: Tanto em Melgaço quanto em Olavo o ataque não se dá em termos de pessoa mas de idéias.

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado