Pedi que Thales digitasse para mim este trecho da Apologia de Sócrates; ele o fez menos por amizade que por peso de consciência: há três meses me tomou uma edição do diálogo emprestada, foi pro Ceará, voltou, qualquer dia ele estará formado, no Ceará de novo, e eu sem meu livro.
Falando do trecho: Querefonte havia ouvido do Oráculo que seria Sócrates o mais sábio dos homens. Dentre os ditos sábios de seu tempo Sócrates averiguou, junto aos políticos, poetas e artífices, a veracidade da afirmação do Oráculo. Estas são suas conclusões a respeito dos poetas:
Depois dos políticos, fui me encontrar com os poetas, tanto os autores de tragédias como os de ditirambos e outros, na esperança de aí me apanhar em flagrante inferioridade cultural. Levando em mãos as obras em que pareciam ter posto o máximo de sua capacidade, interrogava-os minuciosamente sobre o que diziam, para ir, ao mesmo tempo, aprendendo deles alguma coisa.
Pois bem, senhores, envergonho-me de vos dizer a verdade, mas é preciso. Na realidade, quase todos os presentes poderiam falar melhor que eles próprios a respeito das obras que eles compuseram. Assim, logo compreendi que tampouco os poetas compunham suas obras por sabedoria, mas por dom natural, em estado de inspiração, como os adivinhos e profetas.
Estes também dizem muitas belezas, sem nada saber do que dizem; a mesma coisa, apurei, sucede com os poetas; ao mesmo tempo, percebi que, por causa da poesia, eles supõem ser os mais sábios dos homens em outras áreas, em que não são. Saí, pois, acreditando superá-los na mesma particularidade que aos políticos.
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Platão; Apologia de Sócrates. Col. Os Pensadores. p.46.
Um comentário:
e alguns homens não achavam Platão engraçado ...
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