domingo, maio 15, 2005

Como Escrevo...

Ariano Suassuna
"Prefiro escrever a mão, para sentir o prazer de escrever"
Fonte: Correio Braziliense, 28/12/97

Millor Fernandes
- Como aparecem as idéias? Quais são suas motivações?
"Qualquer coisa. Uma conversa, uma leitura, uma fita de cinema. Tudo que estimule intelectualmente. Ou até nada. Eu deveria, mesmo, possuir um gravador no banheiro. Tenho idéias ótimas debaixo do chuveiro. Deve ser o jato de água. Os melhores desenhos, os mais livres são os que faço distraído, enquanto estou falando ao telefone. Quando ponho o papel na prancheta, sei que aquela folha custa 50 cruzeiros. Por maior que seja a liberdade a gente acaba fazendo o que já sabe. Quando estou falando ao telefone, não. Por isso me acostumei a não jogar nada fora. Guardo e, de vez em quando, revejo. É muito comum aproveitar essas anotações, anos depois, para um desenho acabado".
Fonte: Veja, 28/5/75
Roberto Marinho de Azevedo

Sidney Sheldom
- Qual sua sistemática de trabalho? O senhor segue alguma rotina? Possui equipe que o auxilia?
"Eu começo a escrever sempre a partir de um personagem, nunca do tema. Tendo isso em mente, dito tudo para uma secretária, que coloca o texto no computador. Eu reviso e, obtida uma primeira cópia, começo a acrescentar ou cortar. A primeira versão chega a 1.200 páginas. Cada livro leva uns dois anos e meio para ser escrito. Começo a escrever às 9 horas, paro no almoço e depois continuo até as 6 da tarde. Minha paixão é escrever. Trabalho basicamente sozinho, mas uma pessoa faz pesquisas estatísticas para mim. Por exemplo, se quero saber qual é a população de Chicago, ela me informa. Mas a maioria de meus trabalhos é o resultado de experiências pessoais. Se escrevo sobre um local na Índia ou um prato em Singapura, escrevo porque já experimentei isso. O mundo é o meu laboratório."
Fonte: O Globo, 25/11/90

Simone de Beauvoir
- Como lhe ocorre a idéia de escrever um romance?
"Ele constrói-se a partir de experiências interiores sobre as quais refleti durante longo tempo, por vezes durante anos. A Convidada, por exemplo: aos vinte anos, supunha-me mais ou menos no centro de tudo, parecia-me poder ter influência sobre tudo. E depois, pouco a pouco, descobri que os outros nos escapam. Há pessoas que sabem isto aos cinco anos. Eu só o aprendi aos vinte e cinco. Demorei três anos para fazer esse primeiro, embora não seja muito longo.
Fonte: Chapsal, Madeleine - Os escritores e a literatura. Lisboa: Dom Quixote. 1967.

Alberto Moravia
- Como é que escreve?
"Trabalho de manhã, todos os dias, das nove horas à uma, e depois ao fim do dia. Faço sempre isto, mesmo aos domingos, desde os meus dezesseis anos. E escrevo diversas vezes cada romance. Como os pintores da Idade Média, passo algumas demãos de tinta. Escrevi duas vezes A Romana e três vezes Il Conformista. Mas também acabei Agostinho em um mês.
- Sente-se mal com este ritmo de trabalho?
"Não. Levanto-me e coloco-me à mesa para trabalhar. Escrevo diretamente à máquina. É o gesto e o movimento que contam. No início da minha carreira, escrevia três ou quatro linhas por dia e sentia-me esgotado. Agora, tudo isso se tornou mecânico: logo de manhã sinto que devo sentar-me à minha mesa de trabalho. É assim a minha maneira de ser."
E nunca trabalha além de quatro horas?
"Sei que certos escritores franceses trabalham durante todo o dia. Isso parece-me prejudicial. Deve esquecer-se durante uma boa parte do dia de que se é escritor. Em arte, o tempo é, de resto, uma medida convencional: pode-se em dez minutos recuperar alguns anos de preguiça ou de obscuridade. A inspiração não se importa com o tempo. Verifica-se isso, verdadeira e fisicamente, nos momentos de inspiração: a inteligência executa, então, operações com uma rapidez extraordinária. Não é de espantar que Stendhal tenha escrito A Cartuxa de Parma em quarenta dias."
Fonte: Chapsal, Madeleine - Os escritores e a literatura. Lisboa: Dom Quixote. 1967

Umberto Eco
- Qual a receita para se escrever um romance?
"Geralmente, basta copiar palavra por palavra um bom romance já escrito. É a receita mais segura. Todas as outras respostas para essa questão são ainda mais polêmicas. Vejamos outra fórmula: primeiro, pega-se um computador, que é uma máquina inteligente, que pensa por nós - o que para muitos já seria uma vantagem. Depois, mete-se no computador o conteúdo de algumas centenas de romances, obras científicas, a Bíblia, o Corão e muitas listas telefônicas - utilíssimas para nomes dos personagens. No total, digamos, umas 120 000 páginas. A seguir, com um outro programa, mescla-se todos os textos, com algum ajustamento. Exemplo: eliminando-se todos os "a". Depois se imprime. O importante é começar."
Fonte: Veja, 19/7/89J.A. Dias Lopes

Henry Miller
- Antes de mais nada, pode explicar como inicia a tarefa de escrever? Aponta lápis, como Hemingway, ou faz qualquer outra coisa do gênero, para dar a partida?
"Não, geralmente não, nada do gênero. Costumo começar a trabalhar logo após o café da manhã. Sento-me imediatamente diante da máquina de escrever. Se vejo que não consigo escrever, desisto. Mas de um modo geral não há nenhuma etapa preparatória."
- Existe algum treinamento especial que o escritor possa buscar, como o espadachim zen?
"Claro que existe, mas quem o procura? Entretanto querendo ou não, todo artista se educa e se condiciona de um modo ou de outro. Cada pessoa tem seu próprio caminho. Afinal de contas, a maior parte dos escritos é feita longe da máquina de escrever, longe da escrivaninha. Eu diria que acontece nos momentos calmos e silenciosos, quando estamos caminhando, fazendo a barba ou jogando uma partida ou seja o que for, ou até mesmo conversando com alguém por quem não temos um interesse vital. A gente está trabalhando, a mente está trabalhando o problema, que está em nosso íntimo. Assim, quando vamos para a máquina de escrever, é apenas uma questão de transferência."
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S. Paulo. Cia das Letras. 1989. (Entrevistador George Wickes. Setembro de 1961)

Ernest Hemingway
- Poderia falar um pouco sobre esse processo? Em que período trabalha? O senhor segue uma programação estrita?
"Quando estou trabalhando em um livro ou um conto, escrevo diariamente de manhã, a partir da hora em que surge a primeira luz. Não tem ninguém para perturbar, é fresco, ou mesmo frio. Começo a trabalhar e vou esquentando conforme escrevo. Leio o que fiz no dia anterior e, como sempre paro num trecho a partir do qual sei o que vai acontecer, prossigo desse ponto. Escrevo até chegar a um momento em que, ainda não tendo perdido o gás, posso antecipar o que vem em seguida; paro e tento sobreviver até o dia seguinte, para voltar à carga. Se começo às seis da manhã, digamos, posso ir até o meio-dia, ou interromper o trabalho um pouco antes. A interrupção dá uma sensação de vazio, como quando se faz amor com quem se gosta. E ao mesmo tempo não é um vazio, mas um transbordamento. Não há nada que o atinja, nada acontece, nada tem sentido até o dia seguinte, quando você faz tudo de novo. Difícil é viver a espera até o dia seguinte."
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S. Paulo: Cia. das Letras. 1989. (Entrevistador: George Plimpton. 1954)

Moacyr Scliar
- Como é sua rotina de trabalho? O senhor escreve todos os dias?
"Apenas para me disciplinar, ou seja para manter a forma. Todos os dias eu sento e escrevo, mas nunca com o mesmo número de horas. Muita coisa eu jogo fora, pois acho que a cesta de lixo é a grande amiga do escritor."
Fonte: Correio Braziliense, 31/8/96Lourenço Fráguas

Lygia Fagundes Telles
- Fale sobre seu processo de criação. Como você escreve? Usa computador ou máquina de escrever?
"Nem uma coisa nem outra. Eu escrevo à mão. Gosto de usar canetas coloridas, de várias cores. Primeiro eu penso, penso, penso. Depois escrevo, escrevo, escrevo. Fumo, fumo, fumo. Rasgo, rasgo, rasgo. E de novo volto a escrever. É uma coisa! Aí a cabeça vai assentando. É só então que datilografo os manuscritos coloridos numa máquina portátil. Uma Olivetti de colo que ganhei do Paulo Emílio na Itália. E fico com ela no colo, como um bebezinho, ouvindo a música de Bach, Mozart e Beethoven e datilografando os meus textos".
Fonte: O Globo, 19/11/95
Luiz Augusto Michelazzo

Rachel de Queiroz
- Como é seu processo de criação?
"Detesto escrever. Não me lembro de escrever voluntariamente nada. O romance não é voluntário. É uma jornada que você inicia e que não se pode deixar no meio do caminho. Morro de preguiça. O romance vai surgindo em sua cabeça. Às vezes leva anos o processo de incubação da história. Um dos dramas é escolher os nomes dos personagens. Maria Moura, por exemplo, ficou na minha cabeça durante 17 anos até eu sentar e escrever. Deve ser uma maldição, como a dos lobisomens..."
Fonte: Jornal do Brasil, 19/6/94 (revista "Domingo")
Ana Madureira de Pinho

Émile Zola
- Então como o senhor procede, cher maître?
"Eu nunca preparo uma trama. Não consigo fazer isso. Com freqüência, pensava durante horas, segurava a cabeça entre as mãos, fechava os olhos e quase ficava doente por causa disso. Mas de nada adiantava. No final, eu desisti. O que faço é escrever três tipos de estudos para cada romance. O primeiro eu chamo de esboço, isto é, nele, eu determino a idéia principal do livro e os elementos necessários para desenvolver essa idéia. Também estabeleço certas relações lógicas entre uma seqüência de fatos e outra. O dossiê seguinte contém um estudo de cada um dos personagens. Eu me aprofundo ainda mais nos personagens principais. Pesquiso o caráter tanto do pai quanto da mãe , suas vidas, a influência de suas relações no temperamento do filho. A forma como este foi educado, os tempos de escola, o ambiente e os conhecidos até a hora em que ele é apresentado no meu livro. Como vê, portanto, eu me aproximo da realidade tanto quanto possível e levo em consideração, até mesmo, a aparência pessoal do personagem, sua saúde, hereditariedade. Minha terceira preocupação é o estudo do ambiente onde pretendo colocar meus personagens, o lugar onde certas cenas devem acontecer. Eu pesquiso as maneiras, os hábitos, o caráter, a língua e mesmo as gírias dos habitantes do lugar. Eu faço esboços a lápis com freqüência, tiro medidas de lugares e imagino a exata disposição da mobília. No final, eu sei como são esses lugares de dia e de noite. Depois de reunir todo esse material, eu trabalho toda manhã e não escrevo mais do que três páginas por dia."
Fonte: The Idler, junho de 1893. Entrevistador: V.R. Mooney (Extraído de A arte da entrevista, organizada por Fábio Altman. S. Paulo: Scritta. 1995.)

Truman Capote
- Quando e como você escreve?
"Sou um escritor essencialmente horizontal. Não posso pensar mais do que quando estou deitado com um cigarro nos lábios e uma xícara de café ao alcance da mão. A xícara de café pode ser trocada por um copo de vodka, não há por que ser maníaco. Não uso máquina de escrever, redijo a mão com lápis. Trabalho quatro horas por dia durante quatro meses por ano. Sou um estilista: me preocupa muito mais onde colocar uma vírgula do que ganhar o Prêmio Nobel".
Fonte: Crisis, Montevideo, nº; 62, jul. 1988 Raul Silva de la Mora

Paulo Coelho
- Você segue uma disciplina de trabalho?
"Primeiro, não acredito em processos demorados. Escrever é o ato final do processo criativo. É só colocar no papel. Na verdade você desenhou o livro na sua imaginação, naquilo que os alquimistas chamavam de alma do mundo. Então eu sigo uma única disciplina: uma vez que começo, termino. Isso evidentemente é muito fácil de falar e difícil de fazer. Acabo trabalhando oito, nove horas por dia. Acredito que, quanto mais espontânea a coisa, sai melhor. Livros que eu demoro mais de dois meses para escrever, simplesmente destruo. Só uso computador e não tomo notas. O que é importante fica."
Fonte: O Globo, 11/10/97Emanuel Brasil

Lya Luft
- Como é sua rotina de escritora?
Não tenho hábitos rígidos. Prefiro escrever pela manhã, porque à tarde eu emburreço e à noite me torno um zero. A noite é para tomar um vinho e conversar com os amigos. Agora que estou em nossa velha casa, escrevo em meu escritório. Até hoje posso ver a meu lado a mesa que era do Celso. Fico de frente para a janela, olhando as árvores que plantei há mais de 20 anos e o jardim. Nada demais".
Fonte: O Estado de São Paulo, 4/5/96José Castello

Zulmira Tavares
- Como é seu processo de criação?
"A coisa se passa mais ou menos assim: você um belo dia tem a intuição de uma possibilidade criativa, aquilo que usualmente se chama inspiração. Essa possibilidade vai se desenvolvendo aos poucos. Existe nela geralmente um tema predominante, mas outros a ela se entrelaçam. O grande teste porém é quando se começa a escrever. Pois a língua é uma forma previamente constituída, codificada, direcionada, com regrinhas, etc. Isso por um lado. Por outro, carrega toda a ambiência movediça de um espaço social continuamente se refazendo. Assim, diante da escrita que se constitui, a duplicidade da língua, no que tem de mais rígido e no que tem de imponderável, vai oferecendo possibilidades novas e/ou obstáculos para aquele "aceno" inicial de invenção que, em suma, fez você se decidir pelo trabalho".
Fonte: Jornal da Tarde, 27/6/95Priscila Simões

Seamus Heaney
- Fale sobre seu processo de criação. Você se mira em algum escritor?
"O importante na hora de escrever uma poesia é eliminar as barreiras construídas à sua volta. O impulso para a criação tem que ser livre e ambicioso, não pode partir de uma mentalidade estreita, aprisionada numa série de convenções sobre a linguagem, sobre a cultura etc. Nesse sentido, James Joyce permanecerá sempre como um exemplo clássico. Ele soube, mais do que ninguém, se libertar daquilo que o aprisionava".
Fonte: O Globo, 3/10/96Luciano Trigo

Manoel de Barros
- Como é sua rotina de poeta?
"Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo 'lugar de ser inútil'. Exploro há 60 anos esses mistérios. Descubro memórias fósseis. Osso de urubu, etc. Faço escavações. Entro às 7 horas, saio ao meio-dia. Anoto coisas em pequenos cadernos de rascunho. Arrumo versos, frases, desenho bonecos. Leio a Bíblia, dicionários, às vezes percorro séculos para descobrir o primeiro esgar de uma palavra. E gosto de ouvir e ler Vozes da Origem. Gosto de coisas que começam assim: 'Antigamente, o tatu era gente e namorou a mulher de outro homem'. Está no livro Vozes da Origem, da antropóloga Betty Midlin. Essas leituras me ajudam a explorar os mistérios irracionais. Não uso computador para escrever. Sou metido. Sempre acho que na ponta de meu lápis tem um nascimento."
Fonte: O Estado de São Paulo, 3/8/96José Castello

Manuel Vásquez Montalbán
- Fale sobre seu processo de criação. Como trabalha?
"Não sei. Acho que é o trabalho que me organiza, e não eu a ele. Sinto necessidade de fazer coisas, ponho em marcha duas ou três e, de repente, uma me domina. Trabalho muitas horas seguidas, à vezes me seco e não sei como continuar e, em seguida, produzo outra rajada. Mas em geral sou bastante constante."
Fonte: O Globo, 16/7/95Andrea Doti

Manuel Scorza
- De que maneira você trabalha?
"Costumo escrever de 10 a 15 vezes meus livros, porque trato de obter os momentos mais misteriosos da linguagem que precisam se deixar surpreender nas palavras. É impossível, para mim, atingir logo na primeira vez meus "mistérios". E ainda reescrevo o mesmo texto de diversas maneiras, na primeira ou na terceira pessoa, modificando o nome dos personagens, e assim por diante, até que ele atinja sua dimensão definitiva. Em meu terceiro livro O Cavaleiro Insone, demorei exatamente quatro anos para me dar conta de que a paralisação do tempo cronológico, elemento vital da novela, constituía um acontecimento tão monstruoso que apenas poderia ser narrado por um louco."
Fonte: Escrita, São Paulo, v.1, nº 9. 1976J.B. Natali Jr.

Antoine Blondin
- Como escreve?
"Deitado. E quinze horas seguidas, pelo menos, ou vinte horas. É por escrever tantas horas seguidas que escrevo deitado. É intolerável e horrivelmente fatigante ficar sentado. Lembro-me de uma vez ter assim escrito um livro na cama, e quando acabei tinha o corpo todo marcado pelo roçar dos lençóis. Acontece-me não traçar mais do que uma frase durante quatro horas...é enlouquecedor... Não faço qualquer rascunho, porque se o fizesse não teria coragem para recomeçar. E depois tudo depende de coisas tão estúpidas como a forma da letra. Tenho uma bonita letra, muito legível. A vista de uma rasura numa página mergulha-me na mais negra consternação. Uma linha que sobe demais aborrece-me muito, e baixo a seguinte em compensação. É uma espécie de feiticismo."
Fonte: Chapsal, Madeleine - Os escritores e a literatura. Lisboa: Dom Quixote. 1967

Michel Butor
- Para você, como começa a desenhar-se um romance?
"É muito difícil... Ponhamos as coisas assim: quando você leu um romance há certo tempo, acontece que já nem sequer pode resumir a história. Mas conhece, quando se fala desse romance - suponhamos Madame Bovary -, a região onde ele se encontra situado em relação a outras obras de arte e mesmo em relação à realidade. Tal sentimento de situação assemelha-se ao de uma cor particular; qualquer coisa de muito vago, mas também de muito preciso , uma vez que não se confunde com qualquer outro. Ora o romancista é, em geral, alguém que leu romances, e que também viu, e que teve a impressão, no decurso de suas leituras, de que faltava qualquer coisa, que qualquer coisa ficou por fazer. Em determinado lugar há como que uma lacuna. Se for romancista terá o desejo de tapar pouco a pouco essa lacuna."
Fonte: Chapsal, Madeleine - Os escritores e a literatura. Lisboa: Dom Quixote. 1967

Louis-Ferdinnand Céline
- Como escreve?
"Sou um estilista ou, se posso dizê-lo, um maníaco do estilo; quer dizer que me divirto fazendo pequenas coisas. Pede-se muitíssimo a um homem quando ele não pode muito. A grosseira ilusão do mundo moderno é pedir ao homem que seja, cada vez mais, um Lavoisier ou um Pasteur, que tudo resolva de um golpe. Não pode! Um tipo que encontre qualquer coisinha de novo já fez muito, já está fatigado! Já tem para a vida dele! Fala-se de ‘mensagens’. Eu não envio mensagens ao mundo. A Enciclopédia é enorme, está cheia de mensagens. Não há nada de mais vulgar, há quilômetros e toneladas delas, e de filosofias, de maneiras de ver o mundo!...
Fonte: Chapsal, Madeleine - Os escritores e a literatura. Lisboa: Dom Quixote. 1967.

Marianne Moore
- Gostaria de perguntar sobre os princípios e o método de sua escrita. Qual é a base racional por trás dos versos silábicos? Como difere do verso livre, no qual o comprimento do verso é controlado visualmente, mas não aritmeticamente?
"Nunca me ocorreu que o que escrevia pudesse ser definido. Sou governada pela impressão dada pela frase, assim como a queda de um tecido é governada pela gravidade. Gosto de versos com uma pausa no final e não gosto da ordem invertida das palavras; gosto de simetria."
- Como planeja a forma de suas estrofes? Estou pensando nos poemas, geralmente silábicos, que utilizam uma forma repetida de estrofe. Já fez experiências com formas antes de escrever, rabiscando versos em folha de papel?
"Eu nunca "planejo" uma estrofe. As palavras se agrupam como cromossomos, determinando o procedimento. Posso modificar uma disposição ou atenuá-la, e procurar obter estrofes sucessivas, idênticas à primeira. Originalidade inicial espontânea - ou seja, ímpeto - parece difícil de ser reproduzida conscientemente mais tarde. Como Stravinsky dizia acerca do tom: "Se o transponho por alguma razão, corro o risco de perder o frescor do primeiro contato e terei dificuldade em recapturar sua atratividade". Não, nunca "rabisco versos". Evidencio a rima, para poder percebê-la com uma olhada rápida, sublinhando-a em vermelho, azul ou outra cor - tantas cores quantas forem as rimas. No entanto, se as expressões redundam em uma arquitetura muito incoerente, como num texto impresso, noto que as palavras não soam bem. Posso começar um poema, achá-lo obstrutivo, não encontrar uma saída e abandoná-lo por um ano, ou vários; sou parcimoniosa. Procuro salvar tudo que pareça promissor e anotar em uma caderneta."
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S.Paulo: Cia. das Letras. 1989.( Entrevistador: Donald Hall. Novembro de 1960)

Blaise Cendras
- E seus hábitos de trabalho? Disse uma vez que se levanta de madrugada e trabalha horas a fio.
Nunca esqueço que o trabalho é uma praga - e, exatamente por isso, jamais fiz dele um hábito. Logicamente, para ser igual a todo mundo, nos últimos tempos quis trabalhar regularmente de uma dada hora a outra; já passei dos cinqüenta e cinco anos e queria produzir quatro livros seguidos. Quando terminei, estava cansado demais. Não tenho nenhum método de trabalho. Experimentei, funcionou, mas isso não é motivo para me ater a ele pelo resto da vida. Tenho mais o que fazer na vida além de escrever livros. Um escritor jamais deveria se instalar diante de uma paisagem, por mais grandiosa que ela seja. Como São Jerônimo, o escritor deve trabalhar em sua cela. Dar as costas. A escrita é um panorama do espírito. "O mundo é minha representação." A humanidade vive em sua própria ficção. É por isso que os conquistadores querem sempre transformar a face do mundo à sua própria imagem. Hoje, cubro até mesmo os espelhos. A sala de trabalho de Rémy de Gourmaont ficava em um beco, 71 rue des Saint-Pères, em Paris. No 202 Boulevard Saint-Germain, Guillaume Apollinaire, que tinha uma cobertura enorme, com quartos amplos, um mirante e um terraço magníficos, escrevia de preferência na cozinha, em uma mesinha de jogo muito desconfortável, que precisou diminuir ainda mais, para conseguir debaixo de uma clarabóia da mansarda, que também dava para um beco. Édouard Peisson, que tem uma casinha simpática nas colinas perto de Aix-en-Provence, não trabalha nos quartos da frente, de onde poderia desfrutar de uma bela paisagem do vale e do jogo de luz e sombra à distância. Ele mandou construir um cantinho que usa como biblioteca, nos fundos da casa, onde a janela dá para um aterro contornado por lilases. Eu mesmo, no campo, em minha casa em Trembla-sur-Mauldre nunca trabalho no andar de cima, que dá para os pomares, mas na sala de baixo, que só dá para duas direções: um beco sem saída atrás do estábulo e um muro que cerca o jardim. Entre os pouquíssimos escritores que tive oportunidade de visitar várias vezes, apenas um homem de letras, celebrado por seu culto alucinado a Napoleão, instalou-se diante de uma paisagem para trabalhar - uma paisagem histórica -; a janela de seu estúdio tinha vista completa do arco do Triunfo. Mas a janela ficava quase sempre fechada, porque o espetáculo vivo da glória de seu grande ídolo, ao invés de lhe trazer inspiração, cortava suas asas. Dava para ouvir, através da porta, o pobre homem andando de uma lado para outro do estúdio, se debatendo, berrando algumas frases, experimentando sentenças e ritmos, gemendo, chorando, sofrendo, como Flaubert em seu gueuloir. A mulher dele dizia então aos empregados: "Não dêem atenção. É apenas Monsieur corrigindo seu estilo."
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S.Paulo: Cia. Da Letras. 1989. (Entrevistador: Michel Manoll. Outubro-Dezembro de 1950)

Jean Cocteau
- Escreveu um de seus romances em três semanas; uma de suas peças numa única noite. O que isso nos revela do ato da composição?
"Se a força funciona, tudo corre bem. Se não, você está perdido."
- Não existe um jeito de acionar essa força, girar a manivela?
"Na pintura, existe. Concentrando-se em todos os detalhes mecânicos, tem-se um início. Já com a escrita, "recebe-se uma ordem..." "
- Françoise Sagan - e outros - descrevem como a escrita começa a fluir com o uso da caneta. Pensei que essa fosse uma experiência bastante comum aos escritores, de uma maneira geral.
"Se as idéias vêm, tem-se que correr para anotá-las, por medo de esquecê-las. Elas vêm uma vez; só uma vez. Por outro lado, se me vejo obrigado a fazer alguma coisa simples - como escrever um prefácio ou um pequeno artigo para algum jornal - , o trabalho que se tem para dar uma aparência de naturalidade a essas poucas linhas é um verdadeiro martírio. Não tenho facilidade para isso, nenhuma. É... num ponto, o que você diz é verdade. Escrevi um romance, depois fiquei em silêncio. E os editores da Stock, vendo isso, disseram: "Você tem um medo incrível de não escrever uma obra prima. Escreva alguma coisa, qualquer coisa. Simplesmente comece". Então comecei - e escrevi as primeiras linhas de Les enfants terribles. Mas isso só funciona para começos - na ficção . Nunca consegui escrever sem estar profundamente movido por alguma coisa. A única exceção é a minha peça La machine à écrire. Eu havia escrito a peça Les parents terribles e ficou muito boa, e pedia algo que desse continuidade. La machine à écrire existe em várias versões, o que é bastante significativo, e deu um trabalho enorme. Não ficou nada bom. É claro, é uma das minhas peças mais conhecidas. Se você faz cinqüenta desenhos e um ou dois lhe agradam menos, é quase certo que esses vão ser os mais apreciados. Sem dúvida porque se assemelham a alguma coisa . As pessoas adoram reconhecer, e não se aventurar. Reconhecer é tão mais confortável e autolisonjeiro. Tenho a impressão de que quase toda a obra pode ser lida como uma autobiografia espiritual indireta."
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S. Paulo: Cia. das Letras. 1989.
(Entrevistador: William Fifield. Outono de 1963)

W.H. Auden
- Pode dizer alguma sobre a gênese de um poema? O que vem primeiro?
"Em qualquer momento, tenho duas coisas em minha mente: um tema que me interessa e um problema de forma, metro, dicção, etc. O tema procura a forma certa; a forma procura o tema certo. Quando os dois se encontram posso começar a escrever."
- O senhor começa seus poemas pelo início?
"Normalmente, é claro, começa-se pelo início e vai-se até o fim. Às vezes, porém, pode-se começar com um certo verso na mente, talvez um último verso. Começa-se, acho, com uma certa idéia de organização temática, mas isso costuma se alterar durante o processo da composição."
- O senhor recorre a algo para inspiração?
"Nunca escrevo quando estou bêbado. Porque alguém precisaria de auxílio. A Musa é uma moça alegre que não gosta de ser cortejada com brutalidade ou grosseria. E ela não gosta de devoção submissa - aí ela mente"
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S.Paulo: Cia. das Letras. 1989. (Entrevistador: Michael Newman. Outono de 1972)

Vladimir Nabokov
- O senhor poderia falar alguma coisa sobre seus hábitos de trabalho? Escreve de acordo com um esquema prévio? Pula de uma parte para outra, ou segue direto, do início até o final?
"O esquema vem antes da coisa. Preencho os claros da palavra cruzada, em qualquer parte, com toda liberdade. Anoto os trechos em fichas, até terminar o romance. Meu esquema é flexível, mas sou bastante exigente quanto a meus instrumentos de trabalho: fichas de cartolina com pauta e lápis bem apontados, macios, com borracha."
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da paris Review. S.Paulo: Cia. das Letras. 1989.( Entrevistador: Herbert Gold. Verão-Outono de 1967)

Anthony Burgess
- O senhor escreve primeiro as grandes cenas, como fazia Joyce Cary?
"Começo no início, continuo até o fim, então paro."
- Faz o projeto completo de cada livro antes de começar?
"A princípio planejo um pouco - uma lista de nomes, sinopse rudimentar dos capítulos etc. Mas não ouso planejar demais; tantas coisas são produzidas pelo simples ato de escrever."
- O produto acabado é muito influenciado pelo fato de escrever o primeiro rascunho à máquina?
"Não faço rascunhos. Escrevo a página número um muitas, muitas vezes, e passo para a página dois. Empilho folha após folha, cada uma em seu estado definitivo e, finalmente, tenho um romance que - em minha opinião - não precisa de revisão."
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S.Paulo: Cia. das Letras. 1989.
(Entrevistador: John Cullinan. Junho de 1971 - Dezembro de 1972 )

Bernard Malamud
- E quanto aos hábitos de trabalho? Alguns escritores, especialmente no começo, têm problemas para decidir como fazê-lo.
"Não há uma única maneira - existe tanta tolice dita a esse respeito. Você é quem você é, não Fitzgerald ou Thomas Wolfe. Escreve-se sentado e escrevendo. Não há uma ocasião ou lugar específicos; você tem que se adequar a si mesmo, à sua natureza. O jeito como uma pessoa trabalha, supondo-se que seja disciplinada, não importa. Se ela não é disciplinada, não há mágica que possa ajudar. O truque é arrumar tempo - não apenas alguns minutos - para produzir ficção. Se as histórias vêm, você as escreve, está no caminho certo. Todo mundo acaba por aprender qual é sua melhor maneira. O verdadeiro mistério a ser solucionado é você."
- Quanto de um livro está organizado em sua mente quando começa a escrevê-lo? Começa pelo inicio? O curso do livro continua a desviar-se de forma marcante de sua idéia original?
"Quando começo, tenho uma idéia muito bem desenvolvida do assunto do livro e de como ele deve seguir, porque geralmente venho pensando e fazendo anotações há meses, ou há anos. Costumo ter o final em mente, o último parágrafo, muitas vezes textual. Começo pelo início e me mantenho fiel ao caminho traçado, desde que este seja um caminho razoavelmente estreito. Se de repente me vejo em mar aberto, meu instinto narrativo é minha bússola, com auxílio do astrolábio, o tema. O destino, onde quer que seja, está como eu disse, já definido. Se me extravio, não chega a ser uma longa digressão, serve para conhecer o oceano, senão o mundo. A idéia original, alterada mas reconhecível, permanece, de um modo geral."
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S.Paulo: Cia. das Letras. 1989.(Entrevistador: Daniel Stern. Primavera de 1974)

Gabriel Garcia Marques
- Como o senhor começou a escrever?
"Desenhando. Desenhando cartuns. Antes que eu soubesse ler ou escrever, costumava desenhar histórias em quadrinhos na escola e em casa. O engraçado é perceber agora que, quando estava no colégio, tinha a reputação de ser um escritor, embora nunca tivesse realmente escrito nada. Se havia um panfleto para ser escrito, ou uma carta de requerimento, era eu quem os fazia, porque eu era, supostamente, o escritor. Quando entrei na faculdade, por acaso tinha uma bagagem literária geral muito boa, consideravelmente acima da média de meus amigos. Na Universidade em Bogotá, comecei a fazer novos amigos e conhecidos, que me iniciaram nos escritores contemporâneos. Uma noite um amigo me emprestou um livro de contos de Franz Kafka. Voltei à pensão onde morava e comecei a ler a A Metamorfose. A primeira linha quase me fez cair da cama. Fiquei muito surpreso. O começo é assim: "Quando Gregor Samsa despertou, naquela manhã, de sonhos agitados, viu-se transformado, em sua cama, em um inseto gigantesco..." Quando li essa linha, pensei comigo mesmo que não sabia que era permitido escrever coisas como aquela. Se tivesse sabido antes, teria começado a escrever há mais tempo. Então comecei imediatamente a escrever contos. Eram contos totalmente intelectuais, porque eu os escrevia com base em minha experiência literária, e ainda não havia encontrado a ligação entre literatura e vida. Os contos foram publicados no suplemento literário do jornal El Espectador em Bogotá e fizeram um certo sucesso na época - provavelmente porque ninguém na Colômbia estava escrevendo contos intelectuais. Naquele tempo se escrevia principalmente sobre a vida no campo e vida social. Quando escrevi meus primeiros contos, disseram-me que tinham influência de Joyce.
- Quando o senhor trabalha melhor, atualmente? Tem horário de trabalho?
"Quando me tornei escritor profissional, o maior problema que tinha era o horário. Sendo jornalista, precisava trabalhar à noite. Quando comecei a escrever em tempo integral, estava com quarenta anos, e meu horário de trabalho era basicamente das nove horas da manhã às duas da tarde, quando meus filhos chegavam da escola. Como estava acostumado a trabalhar duro, sentia culpa por estar trabalhando apenas de manhã; então tentei trabalhar à noite, mas descobri que o que eu fazia à tarde tinha que ser refeito na manhã seguinte. Então, decidi que trabalharia apenas das nove às duas e meia e não faria mais nada. Deixo para a tarde os compromissos e entrevistas, e qualquer coisa mais que possa aparecer. Tenho outro problema: só consigo trabalhar em lugares que me sejam familiares e que já tenham sido aquecidos com meu trabalho. Não consigo escrever em hotéis, na casa dos outros ou em máquinas de escrever emprestadas. Isso cria problemas porque quando viajo não consigo trabalhar. Claro a gente está sempre tentando achar um pretexto para trabalhar menos. É por isso que as condições que você se impõe são sempre as mais difíceis. Você espera pela inspiração, quaisquer que sejam as circunstâncias. Essa é uma palavra que os românticos exploravam muito. Meus camaradas marxistas têm dificuldade em aceitá-la, mas não importa o nome que se dê a isso, estou convencido de que há um estado de espírito especial em que você consegue escrever com grande facilidade e as coisas simplesmente fluem. Todos os pretextos, como só conseguir escrever em casa, desaparecem. Esse momento e esse estado de espírito parecem vir quando você encontra o tema certo e a maneira certa de tratá-lo. E também tem de ser algo de que se goste realmente, porque não há trabalho pior do que fazer alguma coisa de que não se goste. Uma das coisas mais difíceis é o primeiro parágrafo. Posso gastar muitos meses em um primeiro parágrafo, mas, quando eu o consigo, o resto vem com muita facilidade. No primeiro parágrafo você resolve a maior parte dos problemas do livro. O tema está definido, o estilo, o tom. Pelo menos no meu caso, o primeiro parágrafo é uma espécie de amostra do que vai ser o resto do livro. Por isso, escrever um livro de contos é muito mais difícil do que escrever um romance. Cada vez que você escreve um conto, tem de começar tudo outra vez."
Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S. Paulo: Cia. das Letras. 1989(Entrevistador: Peter H. Stone. Inverno de 1981 )

Philip Roth
- Como você começa um novo livro?
"Começar um livro é desagradável. Fico completamente indeciso quanto ao personagem e sua situação, e é com um personagem em determinada situação que tenho de começar. Pior do que não conhecer o assunto é não saber como tratá-lo, porque, definitivamente, isso é tudo. Datilografo inícios que ficam horríveis, parecem mais uma paródia inconsciente de meu livro anterior do que a ruptura que pretendo conseguir. Preciso de alguma coisa que impulsione o núcleo do livro, um imã que atraia tudo para ele - é isso que procuro durante os primeiros meses em que estou escrevendo algo novo. Com freqüência tenho de escrever cem páginas ou mais, antes de conseguir um parágrafo cheio de vida. Muito bem, digo a mim mesmo, esse é o começo, parta daí: eis o primeiro parágrafo do livro. Examino detalhadamente os que escrevi nos primeiros seis meses de trabalho e sublinho em vermelho um parágrafo, uma sentença - à vezes não mais que uma frase - que contenha alguma vida e então junto tudo isso em uma página. Geralmente não chega a mais que uma página, mas, se tenho sorte, esse é o início da primeira página. Procuro a agilidade para estabelecer o estilo. Depois do começo terrível, vêm os meses de novo divertimento, e depois do divertimento vêm as crises, quando me volto contra todo o material e passo a odiar o livro."
- Quanto de um livro já está em sua mente antes de começar a escrevê-lo?
"O mais importante não está lá, de jeito nenhum. Não me refiro a soluções de problemas, refiro-me aos próprios problemas. Quando se começa, procura-se o que vai se opor à gente. Procura-se encrenca. Às vezes, no começo, surge a incerteza, não porque esteja difícil escrever, mas sim porque não está difícil o bastante. A fluência pode ser um sinal de que nada está acontecendo; de fato, a fluência pode ser um sinal para eu parar, enquanto andar às cegas de frase em frase pode me convencer a continuar."
Fonte: Os escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. S. Paulo: Cia. das Letras. 1989(Entrevistador: Hermione Lee. Verão de 1983-Inverno de 1984)

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente post! Boa compilação.